Paralimpíada, para tudo, que judô de MS é bronze


Luciano Shakihama
*texto publicado na edição de sábado (1º) do jornal O Estado MS

Michele Ferreira treina em Campo Grande. Praticamente desconhecida da maioria, a sul-mato-grossense nascida em Mundo Novo, de 27 anos, já tinha o terceiro lugar nos Jogos Paralímpicos de Pequim, quatro anos atrás. Agora, repetiu a dose na manhã de quinta-feira, primeiro dia de disputas.
Pena que seu sucesso não pôde ser visto na televisão em rede aberta em uma demonstração que, deficiente mesmo é a gente, os “normais”, cuja falta de sensibilidade não nos faz valorizar o esforço por igual de qualquer atleta, seja ele olímpico ou paralímpico, ou paraolímpico.
Para quem não sabe, Michele, além de para-atleta, é mãe, o que requer mais esforço ainda. E, diferente de Rafael Silva, bronze nas Olimpíadas e também judoca nascido por estas bandas, ela mora em Campo Grande. Diferente também é a questão do apoio recebido. Duas vezes terceira colocada paralímpica, ela conta com parcos incentivos. Ajuda louvável de poder fazer uma academia sem custo, além da bolsa federal. Já o nascido em Campo Grande, que foi criado em Brasília, defende hoje o Pinheiros-SP, um dos principais clubes do país. Desnecessário falar mais, né?
Em matéria publicada este ano, neste jornal, Michele declarou ainda estar em busca de emprego e reclamou da discriminação por causa da sua deficiência visual. Difícil crer ser menos difícil chegar a uma medalha paralímpica do que conseguir um trabalho digno.
Doído ainda é ouvir comentários que, na Inglaterra, foi fácil, ela subiu ao pódio, pois sua última adversária desistiu de lutar após machucar-se na repescagem. Como se todo o esforço de Michele para integrar a seleção, brilhar em Pequim-2008, se manter em alto nível, voltar à equipe nacional, e travar dois combates já em tatame londrino fosse tão fácil quanto fazer um macarrão instantâneo em três minutos. Paciência, já diz a música “Zé Povinho é o cão, tem esses defeitos, cê tendo ou não cresce os zóio de qualquer jeito”.
E, assim, segue a luta.Lembrança também para a judoca Victória Santos de Almeida, também de Mato Grosso do Sul, favoritíssima ao pódio, mas que acabou ficando de fora por contusão.
Chega de pensamento negativo. Zica, sai para lá!
É preciso reconhecer que aos poucos o paradesporto vem ganhando espaço. Exemplo é o goleiro Marcos Santos, que estreia hoje com a seleção de futebol de 7, e concilia os treinos com os afazeres de pizzaiolo em sua pizzaria em Campo Grande. Melhor ainda é o nadador paulista Daniel Dias, portabandeira do Brasil paralímpico em Londres, que já conta com três patrocinadores. E temos a Rio-2016, prato cheio para alavancar e ajudar os para-atletas por pelo menos quatro anos. Pois, é melhor quatro anos no bolso do que o eterno pires na mão. E dá-lhe, Brasil-sil-sil!

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