Do jeito que está, esse Brasil x Argentina se transformou em ‘Supercrássico’.


Texto publicado na edição de sábado (22) do jornal O Estado MS
Luciano Shakihama


Na década de 80 e, se a memória não trair, e até o começo dos anos 90, muita gente discutia se era necessário convocar jogadores brasileiros que atuassem fora do país. Havia uma corrente forte contra os “estrangeiros”. O motivo alegado era o de que a seleção brasileira
seria forte o bastante apenas com os atletas que estivessem disputando o Campeonato Brasileiro.
Com uma pitada de nacionalismo, os críticos acusavam os que se aventurassem, principalmente no Velho Mundo, de “mercenários” e até de falta de patriotismo. Com o passar dos anos, mais e mais craques sendo exportados, chegou-se à conclusão de que a bandeira do
protecionismo em relação ao nosso pé de obra mostrou-se desnecessária. Ainda bem. Os títulos das Copas de 1994 e 2002 foram conquistados com a maioria dos elencos
vinda de fora do país. A opinião de que devem ser escalado os melhores, ou pelo menos boa parte deles, tem de prevalecer.
Após ver a rodada do meio de semana da Copa dos Campeões da Europa, nota-se que o time atual não pode ficar sem  Oscar, hoje no Chelsea, o lateral Marcelo, do Real Madrid, ou o zagueiro Thiago Silva, entre outros. E na noite de quarta-feira tive certeza disso. Por isso, lembrei dos anos 80.
O que foi aquilo, em Goiânia? Um time brasileiro jogando com “aquela vontade” ciente de ser apenas um evento caça-níquel? Antes, fosse um negócio da China. Com todo respeito, mas se
eu fosse jogador recusaria educadamente o convite. “Olha, professor Mano, fico honrado em ser lembrado, mas, cá entre nós, este jogo só vale para o senhor. Pois, em caso de derrota, o risco do senhor ser demitido é grande. Para mim, além de não garantir vaga na Copa, ainda
corro o risco de me machucar, ser vaiado, perder a reta final do Brasileirão, e ser cobrado
pelo meu clube”.
Pois bem, comecei a assistir ao joguinho, me esforcei, mas mudei de canal. Vez ou outra
voltava a dar uma espiadinha. E, me entristecia. A que ponto chegou a seleção sob o
comando da CBF- hein?. Eu me solidarizei até com os narradores da TV, que tentavam no dever do ofício dar um ar de jogão ao “Supercrássico”. Mas estava difícil. Parecia até que o
Neymar também sabia. E, resolveu economizar futebol. Apareceu só para bater um pênalti e livrar o elenco de vaias maiores.
Em certa hora, o repórter não se conteve, para o bem da informação. Quando os comentaristas tripudiavam sobre se os jogadores que atuam fora dos dois países realmente
fazem falta às suas seleções, disseram que no lado dos hermanos só Messi faz falta. Do lado brasileiro, a base de Mano estava em campo goiano.  O bravo jornalista, de dentro de campo, deve ter pensado, “aí já é demais”. “Na Argentina, só um destes que está em campo é titular nas Eliminatórias, e no Brasil, também, só o Neymar é titular absoluto. Do meio para trás ninguém é”. Pronto, foi a deixa para eu tirar a bolinha vermelha do meu nariz e começar a
pensar o dia seguinte.
Em tempos idos deveria valer a pena o confronto. Mas, hoje, e nestes moldes, este clássico, o maior do mundo para muitos, vira um programa modorrento que atrapalha principalmente os jogadores e, o torcedor no melhor estilo “me engana que eu gosto”. Que tal, repensar o formato para os próximos anos? Por que não exigir força máxima das duas seleções em um jogo apenas, ou que mantenha as partidas de ida e volta, mas com a obrigação de ter pelo menos cinco jogadores que atuaram de titulares no último jogo oficial de sua seleção.
Do jeito que está, fico com a sensação de ver um patrimônio sendo dilapidado. No caso, o patrimônio seleção brasileira.
Twitter: @kishoshakihama

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