O futebol brasileiro anda muito blá-blá-blá
Luciano Shakihama
*Publicado na edição de sábado (8) do jornal O Estado MS
Dizem que quando você vai ficando mais velho, vai ficando
mais chato, sem paciência. Deve ser verdade, não me incomodo de ser visto desta
maneira. Acho que já era mala mais novo, agora então...
Digo isso pelo fato de estar de mal com o futebol brasileiro
de uma forma geral. Pelo nível dentro de campo, pela exaltação demasiada de
sistemas defensivos, pela má administração dos dirigentes, etc. Mas, talvez
seja reflexo do estágio atual do próprio torcedor. Ou da imprensa em geral, não
sei. Vamos discutir a relação, pois não há mal que dure para sempre. Ás vezes, 90
minutos são capazes de tanta coisa.
Só penso que, quando se torna mais importante no noticiário
o diz-que-me-diz, a fofoca, o jogador que xingou fulano, o dirigente que
desancou o jogador, se ele vai na balada, se ele curte pagode ou rock, se ele
está ao lado de alguma celebridade... não, para mim isto não é futebol.
Como já cantou Michael Sullivan
“Eu sou do tempo do topete, brilhantina e vaselina
Eu sou do tempo do beijinho na bochecha da menina
Do tempo que sapato grande era sapatão
E que galinha era comida só de domingão
Do tempo que a vaca era a mulher do boi (um dia foi)
Eu troco as bolas sem querer, mas não me leve a mal
Naquele tempo tudo era normal
Do tempo que homem que comia homem era só canibal”
A continuar, sou do tempo em que Domingão do Faustão era
bacana e não como hoje, em que estrelas instantâneas ou de brilho duvidoso são
alçadas a exemplo de ser humano. Da
época em que caminhava até a banca de revista mais próxima ou dirigia o então
meu Gol 1000 tipo
Bola até o centro de Campo Grande rumo a POP revistaria, ou
à Time ou A Criativa a fim de
ler os jornalões (principalmente O Globo e Jornal do Brasil)
sobre quem vai jogar, se o meu
time está escalado, se o camisa dez está 100%, enfim,
sobre futebol propriamente dito.
Em passado mais recente, ou um presente mais passado, resumindo:
na época que o
Ronaldo Fenômeno estava no Corinthians, recebi ligação do
leitor. Ele reclamara sobre o
fato do jornal noticiar coisas da vida extra-campo do
craque. “Quem quer saber disso? O que
interessa se ele tem filho fora do casamento, ou se saiu
com travestis? Vocês viraram jornal
de fofocas?”. Respondi que, ao contrário dele, muitos
leitores se interessam, sim, sobre a vida
dos jogadores.
Mas, hoje, confesso que já não tenho tanta convicção. Quando
estive na faculdade, foi debatido em aula o que interessa e o que é
interessante ao leitor. Ou, o que é de
interesse público, ou DO interesse do público. Em um momento em que o futebol e a seleção
nacional não inspiram motivos para comemorar, legal seria se também fossem
abordadas estas questões. De acordo com o ranking da Fifa, estamos apenas em
12º, atrás de
potências como a Croácia, a Dinamarca e a Grécia. Porém, parece
ser mais importante se fulano bateu o carro, se sicrano provocou o ex-time no
twitter, se o gajo está triste
porque “ganha pouco” no Real Madrid, se Ganso está abatido
(sem trocadilho), e por aí vai.
Pode discordar. Alegar que, desde os tempos de Pelé, já
havia este tipo de “vigilância”, que é costume times rivais se provocarem
antes, durante e depois do clássico.
Mas, acredito que havia um equilíbrio e um ambiente mais sadio.
Talvez, o aumento da importância visual nos dias de hoje force a cobrança por
aquela polêmica imagem do
jogador, ou, por outro lado, as frases de efeito sejam
mais do que necessárias para trazer ao leitor/expectador algo diferente. E, o
fundamental, dar ao povo “o que o povo gosta”.
É, talvez sejam formas de analisar a questão. Mas, isto
de saber o gosto do leitor soa tão arrogante como enigmático. Porém, se estiver
muito, muito errado, finalizo meu ponto de vista com a ajuda do Zé Ramalho.
“Pode ser o país de quem quiser. Mas não é, com
certeza, o meu país.”
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