Brasil na Paraolimpíada. Quando elogiam demais, fico com um pé atrás


Luciano Shakihama
*Publicado na edição de sábado (15) do jornal O Estado MS

“O ponto central da nossa mensagem para os Jogos Paraolímpicos é de paixão e transformação. Nós faremos Jogos Paraolímpicos excelentes, despertaremos atenção e mudaremos a postura das pessoas em relação a temas ligados à acessibilidade no Rio e em outras partes do país.” Bonito, né?
A frase foi proferida na segunda-feira, um dia após o encerramento da competição de Londres, pelo executivosênior do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, Leonardo Gryner, à BBC (rede inglesa de comunicação). Sem dúvida, o Brasil teve um ótimo desempenho. De um modo geral, elogios de todos os lugares, diferente da saraivada de cobranças quanto ao desempenho nacional na Olimpíada, quando obtivemos o 22º lugar na classificação geral.
Na Paraolimpíada, a impressão é a de que reinou o sucesso. Encerramos o evento no G7 do quadro de medalhas, com 21 de ouro. Puxa, quanta diferença. Mas, há sempre um mas, e o leitor mais assíduo desta coluna sabe que não vim aqui para explicar e, sim, para instigar. Advogado do diabo serei. Pode vir Levandowski, Joaquim Barbosa, ou você mesmo. Críticas sempre são bem vindas e o debate sempre é muito interessante.
Em 2008, no ciclo paraolímpico até Pequim, o Comitê Brasileiro (CPB), dirigido por Andrew Parsons, recebeu a quantia de R$ 77 milhões. Levando em conta, a campanha de 47 medalhas, sendo 16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes, cada pódio valeu R$ 1,6 milhão. Os bons resultados já em Pequim fizeram o Comitê mais que dobrar o caixa. As 43 medalhas, sendo 21 medalhas de ouro, 14 de prata e 8 de bronze foram conquistadas após gastos de R$ 165 milhões. A festa e o esforço dos para-atletas são válidos.
O complicado é, assim como no esporte olímpico brasileiro controlado por Carlos Arthur Nuzman, detalhar o porquê cada metal obtido por Daniel Dias, André Brasil, Alan Fonteles e Terezinha Guilhermina, Tito Sena e companhia, nomes que, espero não caiam no squecimento e sejam lembrados somente em 2016, tenham custado R$ 3,8 milhões.
É, pode ser que peguei um pouco pesado. Mas, a partir do momento em que o espírito (para) olímpico original se esvai, e entra o “ganhe mais, ganhe mais, supere o seu adversário”, vamos elevar o tom da cobrança. Como disse em outra ocasião, não sei se o quadro de medalhas é o termômetro ideal para se medir a evolução de uma nação na questão (para) esportiva. Mas, por enquanto, é o “índice” que se convencionou para avaliar o desempenho de uma elegação.
Claro, a situação melhora se o cálculo for investimento por para-atleta classificado. Em Pequim-2008, o Brasil contou com 188 competidores, então, cada um “valeu” R$ 409 mil. Já neste ano, o Comitê teve 182 na luta por medalhas, deste modo, cada heróico integrante da
delegação teve nele investido R$ 906 mil. Números são frios. Neste montante financeiro, amparado quase que 100% por patrocínio público, pode ser alegado que os recursos também servem para outros fins.
Mas, como se vê, os dirigentes não se esforçam muito para detalhar a conta. Em Mato Grosso do Sul, sinceramente, não se percebem investimentos que justifiquem tais valores. Se estiver errado, por favor, me corrijam.
Em tempo: Nada apaga ou desmerece o esforço dos atletas e, neste caso, para-atletas. Se nós temos uma noção, eles têm todas as noções do quanto é heróico persistir, treinar e chegar aonde chegam.
Em tempo 2: “O Brasil conquistou menos medalhas do que em Pequim (43 a 47 no total). Vai ser preciso trabalhar mais no Rio”, Michele Aparecida, judoca de bronze, e pé no chão.

twitter @kishoshakihama

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