Se gosta de Ney Matogrosso, bom ir logo ao cinema

Cartaz ao lado da sala do cinema
- Blog do Kishô

Olha, sei lá se quando você passar por aqui Homem com H ainda estará em alguma sala de cinema de Campo Grande. Se sim, e, óbvio, tu não tem nada contra Ney Matogrosso, vale muito a pena ver na telona.
Se não gosta dele, daquele jeito, nem vai. Capaz de sair antes da metade do filme. Sério.
Pelo menos na sala de exibição em que assisti ao longa biográfico dirigido por Esmir Filho, o som estava muito bom. Visualmente, Jesuíta Barbosa deu conta – e muito, muito bem, atuação digna de prêmios – de interpretar o bela-vistense Ney de Souza Pereira.
O filme de duas horas começa com Ney criança, às voltas com o “Homem de Neanderthal”. O relacionamento difícil com o pai Antônio, militar das antigas, ainda mais naqueles tempos, permeia boa parte do filme. Daria uma abordagem psicológica interessante a (falta de) convivência da dupla. Eu acho... Rômulo Braga também manda bem.
Sem vergonha de expor a sexualidade, Homem com H tem indicação etária 16 anos. Neste aspecto, o roteiro e direção de Esmir Filho dão agilidade bem legal, assim como na edição. Falar sobre trilha sonora é sacanagem né. Só pra ser um pouco chato, senti falta de Amor.
A fase Secos e Molhados, na ótica do personagem principal, é apresentada com certa dose de ironia. Tem partes engraçadas, tem instantes estilo treta que acontece em bandas, e por aí vai. Não li o livro de Julio Maria, em que se baseia o longa, mas considero bem equilibrada o retrato dessa parte da carreira de Ney. Ou, não?
A metamorfose “bicho-pessoa” de Ney transparece na tela, sem estrelismos acima da média. A personalidade do artista que no princípio desejava ser do teatro, e do meio em diante faz de maneira única a mistura performance/interpretação se faz presente. Uma pessoa de princípios imutáveis como… seu pai. Foi a mãe dele quem disse (mais ou menos). Também representada competentemente por Hermila Guedes.
Décadas de 70, 80, 90, HIV e homofobia/machismo (bastante), ditadura, censura, aparecem em doses certeiras no drama. Caraca, mandou um Réquiem para Matraga destruidor. Momento pitoresco – pra evitar spoiler – com censores, e, comentário mais aleatório (se levar a mal, foi mal, talvez você não entenda ainda meu humor estranho humor), a parte triste da chegada do HIV me remeteu a Forrest Gump.
E o Cazuza? Com Jullio Reis, mete o nariz na vida de outro baita artista. Opinião compartilhada por gente que manja bem mais que eu dessa dupla (Cazuza/Ney), o trecho deste longa é mais fiel ao cantor e compositor falecido em 1990, do que o filme sobre ele, O Tempo Não Para (2004). Aliás, na referida produção, Ney foi, digamos, “esquecido”.
Em Homem com H, a relação dos dois, claro, sob a ótica de Ney, foi intensa. E bonita. Cara, tem uma parte em que os dois estão sobre um palco e discutem como será o show do Cazuza, com direção de Ney. Em determinado momento, o silêncio da cena ecoou no cinema. Nenhum pio, movimento, alguém a falar. Foi muito doido. As memórias com o poeta realmente estão entre os destaques do longa.
A parte final, arrepiei. “Eu fui nesse show!”. Pois é, ainda tive de escutar essa de uma amiga. Orgulhosa e feliz de ver este espetáculo, em Campão no fim do ano passado. Única vez que assisti o Ney foi, creio, no fim da década de 90. Não lembro muito bem, azar o meu.
Os minutos finais da passagem Jesuíta/Ney cuja dimensão de gran finale poderão ser sentidos no cinema. Repito, pois não é toda hora, o som estava muito bom.
Então, percebe-se, a produção revisita muita coisa. Certeza, tem muito mais assunto, se pá. Vai do gosto de cada um.
Pode não acreditar, mas fui assistir sem saber direito o que esperar. Não li quase nada sobre impressões de Homem com H. Saí da sessão com a cabeça cheia. E, porque não, certa satisfação em escutar dias sim, dias não, uma pá de música tocada durante as duas horas do longa. Afinal, é a base do sucesso da pessoa que segue a atravessar o tempo em alta performance.

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