RAN faz 40 anos. Só assisti – pra valer - agora
Esse dá pra dizer que só assisti - pra valer - agora. Lançado há 40 anos, parece que foi exibido no Brasil na temporada seguinte, RAN é um baita filme. Tinha visto faz uma cara, e no streaming – saiu do catálogo há poucas semanas - tinha dois comentários que meio que me identifiquei.
Um era tipo “na época que vi considerei engraçado, tosco, mal feito. Hoje, percebo o quanto fui imbecil”. O segundo foi na linha “era muito novo quando assisti a primeira vez. Apesar de violento, Kurosawa fez do filme uma obra antibélica”.
Akira Kurosawa, falecido em 1998, talvez seja o mais icônico diretor do cinema japonês. Nem sei porque disse isso, óbvio né. A produção franco-nipônica tem umas duas horas e meia de duração e foi baseada em Rei Lear, de William Shakespeare. Sobre a peça do famoso britânico, tem outro longa-metragem que vale a pena dar uma olhada, é O Rei Está Vivo, do começo dos anos 2000. É bem bacana. Mas, não tem nada a ver com RAN, em que Kurosawa traz a história para o ambiente do Japão feudal, samurai e tal.
Momento sinopse: “Hidetora, o grande chefe do clã dos Ichimonjis, anuncia que pretende dividir seus bens entre seus três filhos. A notícia os lança em uma forte disputa, que abala o pai e enfraquece o feudo e o legado da família.”
Então, o longa começa bucólico, diálogos em um descampado, mas com ar cerimonial e oficial. O chefe mor rodeado de alguns outros vizinhos e dos seus três filhos. Você até imagina, ué, para alguém que tomou todas essas terras na porrada tem muita pouca gente, pouco exército.
À medida que a trama se desenrola, o longa indicado ao Globo de Ouro da época, de melhor filme internacional (perdeu para o argentino A História Oficial, aliás, primeiro filme da América Latina a levar o Oscar dessa categoria), empilha situações com maestria, do mesmo modo que descortina a massa de figurantes que dá o ar de grande produção. Galera bem vestida, tanto que rendeu a estatueta de Melhor Figurino, fruto do trabalho de Emi Wada.
Com muito tiro, porrada, e espadas, Kurosawa encontra e doma espaços para tratar da natureza humana tão bem retratadas por Shakespeare. Traições, arrependimentos, inveja, sentimentos a mil cuja relação do quarteto de homens (pai e filhos) se deteriora, o que aos poucos leva o patriarca à loucura.
Hidetora, interpretado por Tatusya Nakaday, come o pão que o diabo (ele mesmo, será?) amassou. Entra em umas bad de arrependimento pela carnificina promovida por ele quando jovem, e suspeita que todos e todas – sem exceção – odeiam ele. Não é bem assim…mas, piedade é sentimento distante da maioria dos entes e nem tanto ligados a ele.
O lado feminino vem encarnado na figura de Kaede, interpretação bem legal de Mieko Harada. Esposa de um dos filhos, ela mexe com a galera com quem distribui peças em um tabuleiro com o objetivo bem definido. Literalmente, faz alguns e alguma perderem a cabeça.
Menção honrosa à bobo da corte Ryoami, atuação de peso de Shinosuke Ikehata. As cenas com Hidetora são uma beleza à parte no rol de atuações marcantes do longa.
Trilha sonora, as filmagens em plano aberto, das batalhas, são de uma pompa e tanto. Cara, é um filmaço. E, sim, uma forma de manifesto antiguerra. Pena que deve tocar o coração de zero pessoas que realmente mandam nessa terra redonda.
É isso, quando quiser assistir uma grande produção clássica fora do eixo EUA/Europa (mesmo que RAN tenha coprodução francesa), Akira Kurosawa é pedida daquelas.
Se já viu, beleza, qualquer coisa diga aí.
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