A quem interessa o salário do jogador?



Do Blog Esporte Fino
Postado por Fabio Chiorino

Imagine que você é um importante diretor executivo. Eis que você chega ao trabalho pela manhã e se depara com uma mensagem no canal de comunicação interna da empresa. Lá, o seu superior questiona o seu desempenho no último semestre e diz que é inadmissível um profissional que ganha R$ 50 mil por mês não bater as metas previstas e prejudicar o crescimento de toda a corporação. Absurdo, não?
Pois é justamente o que acontece na imprensa esportiva. Há alguns anos, diante de um cenário em que alguns atletas passaram a ganhar verdadeiras fortunas, os veículos de comunicação decidiram que faz parte da informação revelar os salários dos jogadores de futebol. O mesmo acontece com os treinadores, que também se tornaram altos investimentos dos clubes.
Natural que os grandes jogadores brasileiros sejam avaliados pelo que representam e custam, mas tornar pública a quantia que recebem mensalmente é uma prática extremamente invasiva. E isso incita cada vez mais os torcedores a cobrarem os boleiros levando em consideração apenas a folha de pagamento.
Wesley, volante do Palmeiras, vive essa situação nos dias atuais. O Atlético Mineiro demonstrou interesse pelo jogador e logo surgiram reportagens falando sobre o quanto o Palmeiras economizaria com o empréstimo. E na maioria dos veículos foi revelado o salário do jogador, quase como uma acusação. A “culpa” por ganhar muito (o que é um conceito relativo, se você não conhece os demais salários do time ou a realidade do futebol brasileiro) não é do jogador. A responsabilidade de fechar a folha salarial é inteiramente do clube, que deve definir se haverá um teto ou algumas disparidades significativas dentro do elenco.
Os jogadores estão completamente vulneráveis diante dessa prática. É até possível imaginar que os próprios clubes “vazam” os valores para imprensa, para que as publicações posteriores sirvam de termômetro para definir uma futura transação.
Obviamente, a parte financeira deve ser levada em conta quando se discute a gestão esportiva, o que inclui a publicação dos balanços dos clubes. Entretanto, esses números devem contemplar um cenário consolidado, sem individualizar as contas. Deve haver um limite para não confundir transparência com curiosidade pública. Insistir nessa exposição é mais um sinal de que a imprensa esportiva abandonou o bom senso.

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