Às vezes, a cobrança por resultados é tanta que saímos da realidade


*Texto publicado na edição de sábado (20) de O Estado MS

No esporte, nosotros, os brasileiros, temos arraigado na nossa cultura o culto cultuado que culmina em idolatrar apenas quem alcança o cume. Quando era garoto, com meu grupo de amigos, alterava a máxima, “o importante é competir” para “competir é bom, mas ganhar é melhor”.
O lado positivo da força adota o estimulante “os últimos serão os primeiros”. O lado competitivo ao quadrado incita que, “o segundo é o primeiro dos últimos”. Exemplos não faltam. Que digam os vascaínos, com sua tradicional pecha de “vice”. Brincadeiras à parte, ficar em segundo em uma disputa equilibrada não deveria ser demérito algum.
E o futebol feminino, em que o fato da craque Marta ser escolhida a melhor do mundo em vários
anos foi insuficiente para alavancar de vez o esporte. Talvez tenha faltado o título mundial e ou olímpico. Em Olimpíada, então, o nível de cobrança é estampado pelo quadro de medalhas. Não importa o número de medalhas, o que vale é a quantidade de ouros. Não é Bernardinho, que viu a coisa ficar russa?!
O momento de reflexão de hoje continua e estendo ao esporte em Mato Grosso do Sul, que é mais a minha praia. Ops, vai lá, o meu córrego, no máximo, um Inferninho. Muita gente, o que inclui este que vos escreve, só valoriza os atletas locais quando alcançam o ouro, ou, no mínimo, o pódio. Independentemente da modalidade.
No esporte amador, desejamos que nossos lutadores, judocas, nadadores, ciclistas, pilotos, cavaleiros,
atletas brilhem na elite. E, esquecemos que, friamente, somos um Estado com uma população longe
de ser numerosa como os grandes centros, e com investimentos talvez proporcionalmente
inferiores aos concorrentes das regiões Sudeste, Sul, mais alguns do Nordeste e a dupla Distrito Federal e Goiás.
Não cai a nossa ficha que, quando algum atleta ou time disputa um Brasileiro, seja ele principal ou de base, deixou para trás Estados que também buscam um lugar de destaque entre os “grandes” do país. Por isso, a escassez de títulos nacionais por aqui é a regra. Sim, são exceções. Em tempo, a final do Brasileiro da Série D será entre Sampaio Correia, do Maranhão, e o Crac de Catalão-GO.
O time de Goiânia é aquele mesmo, que por pouco não foi eliminado pelo Cene na primeira fase. Então, vamos com calma. Não adianta, muitas vezes, pensarmos como “potência”, e almejar que disputamos com paulistas, cariocas, gaúchos, mineiros de igual para igual.
A grosso modo, seria como imaginar que em melhor de três partidas contra algum clube da Série A, o futebol de Mato Grosso do Sul ganhasse uma e empatasse outra. Nem Martin Luther King, com o seu “I have a dream”, sonharia tanto. Estaria mais para o finado trapalhão Mussum e o seu brasileiríssimo “I have a dreamis”.
Longe de ser um discurso conformista. Mas, realista e atual, sim. Quem sabe, a gente caminhe para figurar entre os melhores do país, consiga segurar os nossos talentos na nossa terrinha, como o ciclista Magno Prado, a meio de rede Natasha Farinea, Talita, o nadador Lucas Kanieski e por aí vai...
Por enquanto, um pouco mais de compreensão e apoio é necessário. Eu, prometo (esta palavra em tempo de eleição é dose, mas é que eu quero evitar o “juro”), que vou me esforçar.

twitter: @KishoShakihama

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