Câmara, Senado, 'nada presta'. Mas, muita calma nessa hora



 Renan Calheiros, Henrique Alves, ê lê-lê. Difícil é não chover no molhado ao falar destas peças raras que vão ocupar cargos de comandos no Senado e na Câmara. Acho que a gente é tão bombardeado por informações que ficamos entorpecidos e caímos no famoso “político não presta”.
Duro é discordar. Ao mesmo tempo temo que algum maluco ou milhares de cabeças dominantes deste país varonil comece a ter (muita) saudade dos tempos difíceis. Cujo, lembro eu, crianção de tudo, sei lá porquê, comecei a gritar em casa “Abaixo a Ditadura!” ou coisa parecida. “Fica quieto guri! Perigoso ir preso!” Lógico, foi um grande ato exagerado de mãe. Às vezes, nem ela lembra mais. Para mim ficou na memória até hoje, quase 30 anos depois.
 Fico por aqui, e deixo a sugestão de leitura deste artigo do Leonardo Attuch, colunista da Istoé, publicada na edição desta semana da revista
Não que concorde com tudo que ele escreve ou escreveu (nem mesmo neste texto), mas vai aí.


Fechar o Congresso?
O contínuo processo de desmoralização da atividade política no País pode não terminar bem
Dirigido por Steven Spielberg, o filme “Lincoln”, favorito ao Oscar de 2013, chega em boa hora ao Brasil. A trama relata o esforço do presidente mais cultuado na história dos Estados Unidos para aprovar sua grande realização: a emenda constitucional que, em 1865, aboliu a escravidão. E usando instrumentos que, no Brasil de hoje, dariam prisão perpétua.
Na democracia, mesmo o homem mais puro da América se viu forçado a sujar as próprias mãos, num processo definido pelo humorista José Simão como uma espécie de “mensalation”, o precursor de todos os mensalões que vieram depois. Lincoln teve de se envolver diretamente no submundo da atividade política, comprando votos com dinheiro ou com cargos na máquina pública. E o Congresso americano daquele tempo não era muito diferente dos parlamentos atuais. Existem princípios, mas eles só avançam quando há também o convencimento em casas legislativas formadas por seres humanos de carne e osso que, antes de tudo, pensam nos seus próprios interesses.
A democracia representativa funciona assim e é essa, inclusive, a sua beleza, mas ela vem sendo permanentemente desmoralizada no Brasil. Nesta semana, uma corrente moralista, mas de uma ética seletiva, condenou as eleições de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) às presidências do Senado e da Câmara. Renan e Henrique não são os mais puros dos homens, mas retratam à perfeição os parlamentos. Foram escolhidos por seus pares, que formam a maioria das duas casas, porque são vistos como os mais capazes de cumprir acordos. Foram combatidos, sobretudo, porque ajudam a consolidar a aliança PT-PMDB em 2014.
Enquanto Fernando Henrique Cardoso governou o País, a lógica de formação de maiorias no Congresso não era muito diferente. FHC teve como presidentes do Senado nomes como José Sarney, Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho. Na Câmara, Luís Eduardo Magalhães e Michel Temer. E nunca é demais lembrar que Renan Calheiros foi seu ministro. Não um ministro qualquer, mas o da Justiça. Naquele tempo, porém, quando serviam à governabilidade de outro projeto, eram todos homens probos.
Se o Brasil prosseguir nessa trilha de desmoralização permanente da política, qual será o resultado? O fechamento do Congresso? A democracia direta através de plebiscitos? O unicameralismo? Todo poder ao governante? A supremocracia, com o Judiciário interferindo no Executivo? Que modelo de governabilidade nos propõem os neoudenistas?

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