Se o poder público pode bancar o futebol. O futebol teria de tornar as coisas mais públicas?


Publicado na edição de sábado (24) do jornal O Estado MS

Luciano Shakihama

Até quando o poder público pode interferir no privado? Qual é o limite do apoio/patrocínio ao futebol profissional?  E ao esporte em geral?
Essas questões vieram à tona em um início da tarde desta semana pós parceria Corinthians-Caixa. Tudo bem, não foi como um devaneio de quem acorda numa bela manhã e cogita mudar nome de Estado. Mas, confesso que fiquei meio intrigado em tentar saber a fronteira que separa estatal de particular, e até onde vai o moral do imoral nesta história.
Aos que habitualmente se esforçam para ler estas mal-traçadas linhas, e que agradeço muito, sabem que não sou muito fã de governo, prefeitura, enfim, qualquer instituição/entidade que receba dinheirinho nosso, para apoiar o futebol “profissional”. Por exemplo, se o nome do campeonato é Sul-MatoGrossense de futebol profissional, quer dizer que não precisa de recursos públicos. Vem daí, a maior diferenciação entre esporte amador e esporte profissional.
Esporte amador precisa de ajuda. E, é até chato dizer isso, tem de valer Brasil afora. Por que clubes, reconhecidamente “grandes” teriam de ser tratados diferentes? Como se, em vez de encarar aquela fila de banco gigantesca da segunda-feira, age como cliente VIP e vai direto ao gerente. Quer dizer, o funcionário vai até ele. E, ainda, alguns estacionam na vaga para idosos ou deficientes.
Hoje, fala-se do Corinthians, mas e o Vasco, com a Eletrobras, a Banrisul no Rio Grande, e,
em tempo mais longínquo, o Flamengo com a Petrobras?  Penso cá com meus botões, será puritanismo demais? Por que as outras modalidades podem, e o futebol não? Hoje, não é tudo business? E o retorno do patrocinador, ninguém lembra? Sob a ótica da lei, ilegal não é.
Vai ver que tudo isto é verdade. Estou chato demais. Para que ser do contra, deixa o governo fazer estádios, tentar ajudar os clubes afundados em dívidas por meio de iniciativas como Timemania, o futebol não é a alegria do povo? Então, que seja bem-vinda as verbas para bancar salários de jogadores, supertécnicos, passagens aéreas, etc.
Isto posto, tenho algumas sugestões. Como todo órgão público tem que ter, teoricamente, as suas contas bem claras, seria interessante clubes e confederações disponibilizarem obrigatoriamente também, seus relatórios e afins. Pois, a prerrogativa alardeada por dirigentes, de que “isto aqui é órgão privado e não público”, é a primeira a ser levantadas pelos cartolas quando indagado sobre possíveis falhas ou erros em suas contas. Suas, porque os dirigentes tratam times e campeonatos como se fossem deles. Nestas horas, vai por água abaixo toda aquela ladainha de que o clube tem milhões de seguidores, e blábláblá.
Após melhor refletir, devo estar errado mesmo. Poder público tem de botar o seu, meu, nosso dinheiro para ajudar o time ou a cidade a erguer estádios, que, futuramente cobrarão caros ingressos para os jogos. Para que perguntar se pode? Por favor, fiquem à vontade, esta é a minha contribuição para a evolução do futebol brasileiro, hoje, top-13 no ranking da Fifa.
Estou tranquilo. Creio que, como há grande chance de parte do imposto que pago foi para erguer os elefantes brancos, digo, “arenas”, devo ser um pouco proprietário do local também. Então, vamos lá gente, exercer o nosso direito de dono do pedaço sem precisar pagar para entrar na “nossa casa”. O seu time tem apoio de algum órgão público. Público=povo=nós=você. Opa, você mais é que pedir para ser ouvido no clube. Tudo bem, estou exagerando. Estou?

twitter@KishoShakihama

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