O quadro de medalhas é ideal para medir o sucesso do esporte no Brasil?

Texto publicado na edição de sábado (4) do jornal O Estado MS www.oestadoms.com.br

Luciano Shakihama

Passamos da metade do calendário de competições dos Jogos Olímpicos de Londres. E tem algo que me intriga. Na hora em que escrevo este texto, o Brasil somava quatro medalhas. Uma de ouro, uma de prata e duas de bronze.
Nem vou entrar no mérito se é muito, pouco, se o pódio é o que realmente importa para medir o desempenho de uma delegação. Mas, me incomoda essa neurose tipo Rabugento, aquele cachorrinho da risada, o “Mutley”, por medalha, medalha, medalha (vixe, já entrei...agora senta que lá vem história). Por outro lado, como medir a atuação dos atletas, do país, se não for por pódios? O quadro de medalhas é tratado por muitos como o ibope é para as emissoras de televisão. Um deus.
Vou compartilhar com vocês trecho do texto escrito por Lúcio de Castro, jornalista, publicado no último dia 25 no site da ESPN.com.br. Fiz control C control V mesmo, pois acho que vale a pena.
“Quatro anos depois (de Pequim 2008), me assusta ver que o filme se repete. O discurso está pronto.Prudentemente posto em prática antes do apito soar na charmosa Londres. Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) tem passado sempre pela questão da “necessidade de maior preparação psicológica para nossos atletas”. E repetido sempre que “todas as condições foram dadas”. No cínico argumento que omite a vida escolar dos nossos atletas. A história de cada um antes de se tornar, sempre por esforço próprio, em atleta de alto nível. Omite que o esporte aqui ainda está longe de ser prática sistemática desde o mais tenro banco escolar. Omite que o esporte deve ser pensado como instrumento e promoção de saúde e educação, prática massiva desde os primeiros passos escolares. Sem o qual jamais seremos a tal prometida potência olímpica. Preparem-se. Em poucos dias provavelmente o tema vai voltar”.

Já na (crônica falta de) ótica dos governos e, porque não, da maioria da torcida brasileira, mesmo eu me pego muitas vezes criticando ou culpando a falta do algo mais na hora de decidir. O famoso “ih, pipocou”. O poder federal considera o seu investimento no esporte se não o adequado, pelo menos de bom tamanho para engrossar o ufanismo nacional. Como fiz algumas linhas acima, apelei para o “se for copiar, copia direito” e pincei este trecho de uma matéria da Agência Estado, do dia 27 de julho. A seguir: “O COB vem indicando que o número de medalhas obtidas em Londres deve ser o mesmo dos níveis obtidos em Pequim, em 2008, quando o Brasil acumulou três ouros, quatro pratas e oito bronzes. O governo, entretanto, não concorda que isso seja suficiente. “Precisamos buscar um maior número de medalhas na Olimpíada”, afirmou Dilma Rousseff.” Ainda na mesma entrevista, ela cobrou mais resultados nos esportes individuais. Em tempo, dos Jogos de Londres, o ministro do Esporte Aldo Rebelo “exige” o total de 20 exemplares dos preciosos metais olímpicos, seja ouro, prata ou bronze. Cinco a mais do projetado pelo COB.

Depois destas opiniões de peso, quem sou eu para falar algo a favor ou contra a cobrança das medalhas? Prazer, sou jornalista-torcedor-brasileiro e na humildade, digo apenas que seja feito um balanço geral da participação do país após o dia 12 deste mês. Cabeça fria, racional, pensar o que está dando certo e repensar o que está errado e planejar de  verdade uma política nacional ao esporte. E não lembrarmos dele apenas de quatro em quatro anos, e colocar todo o peso nas costas dos atletas, cuja maioria teria de merecer aplausos só pelo fato de com muito esforço ter chegado em uma Olimpíada.

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