Copa SP com cem times é meio sem noção. Para as equipes de MS é vitrine, ou ilusão

*Texto publicado na edição de sábado (5) no jornal O Estado MS


No Brasil, o ano do futebol tradicionalmente começa assim. Primeiro, os garotos, depois os adultos. Neste ano, desde a sexta-feira, a garotada começou a correr atrásda redonda pelo título da Copa São Paulo de juniores.
Em 2013, a Copinha engordou ainda mais e chegou à fabulosa marca dos 100 times. Para quem é interessado ou tem mais de 40 anos, lembra até um pouco o que acontecia no Campeonato Brasileiro, que chegou a ter 94 equipes em 1979, amparado pelo bordão “Onde a Arena vai mal, mais um no Nacional”. A Copa SP é de responsabilidade da Federação Paulista, e qual seria o bordão mais adequado para inchar ainda mais o torneio de base? “Na Copinha, que mal faz incluir mais um timinho?”, foi o melhor que imaginei.
Fique à vontade. Alheio a isso, fato é que o torneio segue sendo uma fábrica de ilusões, ou sonhos. Cada vez mais para poucos. Nas últimas quatro edições, só os clubes da Série A levantaram a taça: Corinthians, duas vezes, e Flamengo e São Paulo, uma cada. Clubes que já têm escolinhas espalhadas pelo Brasil. Para os da “elite”, o torneio é mais um laboratório para ver se há jogadores que têm condições de seguir no clube.
E, os demais? Resta a famosa “vitrine”. E, no futebol sul-mato-grossense? O que sobra? Com um trabalho pífio feito pela federação e os clubes nas categorias de base, o Estado jamais classificou uma equipe para a segunda fase. São mais de dez anos participando do torneio. Literalmente, só participando.
Para este ano, o cenário não é muito animador. Só os primeiros de cada grupo têm classificação garantida. Aí sobram algumas vagas para os sete melhores segundo lugares. Portanto, se o Guaicurus durar mais do que três jogos na Copinha, pode comemorar. Já o Aquidauanense conta no elenco com uma legião de pratas da casa no time para quebrar este jejum. São seis atletas que brigam por uma vaga no time contra a maioria de garotos revelados longe das divisas sul-matogrossenses e gerenciada por empresários.
Comercial e Operário já utilizaram fórmulas semelhantes e naufragraram. Na época, a alegação para “alugar” os times foi a falta de patrocínio e apoio dentro do Estado. É, pode ser. Se nem os dois principais clubes da Capital têm trabalho de base, não há como cobrar mundos e fundos.
No Guaicurus, a ordem é inversa. De acordo com a escolinha de Campo Grande, o elenco é 100% sul-matogrossense. E daí? O que interessa é dentro de campo, dirão alguns. Vai ver que é, sim. Mas, se o torneio é voltado para categoria de base, não soa contraditório deixar de lado os atletas do Estado em detrimento de só vislumbrar transações e negociações? Só para constar, a situação ocorre com times de outras regiões convidados para o torneio, incluindo clubes de São Paulo.
Daqui a pouco poderia mudar o nome da competição para Copa SP de aluguel Júnior. E, corra garoto, que é o seu “futuro” que está em jogo! Torço muito pelos jogadores e, muito pouco pelos dirigentes. Apesar de tudo, é uma das poucas chances para os atletas daqui de, quem sabe, se destacarem diante de um grande clube.
Na semana que chega, o, de acordo com a imprensa paulista, "inexpressivo" Guaicurus terá a possibilidade de pelo menos incomodar o São Paulo-SP. E, amanhã, o "Azulinho" de Aquidauana, também citado da mesma forma inexpressiva, ao lado de Tocantinópolis (TO), e Espigão (RO), desafia o Grêmio-RS. Boa sorte a todos!

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