Dahomey é o tesouro africano para tentar o Oscar

Ó, vai parecer que não, pensei em falar sobre Dahomey antes do terremoto de domingo proporcionado por Fernanda Torres sobre o Globo de Ouro, hein?! 
Dahomey aparece como pré-indicado ao Oscar tanto para Melhor Documentário como para Filme Internacional (concorre com Ainda Estou Aqui). Com locações na França, Benin, o longa dirigido por Mati Diop entra como representante de Senegal.
Neste documentário dramatizado, o espectador embarca junto com 26 tesouros reais africanos saqueados pela França no retorno ao continente natal. Conforme a produção se desenrola é sabido que os franceses pilharam 7 mil (!) objetos.
Confesso que tive de assistir duas vezes para saber o motivo do filme fazer tanto barulho entre especialistas e nos festivais. Na primeira, acho que estava com a cabeça em lugar tão tão distante e não entrei no clima.
Daí, semana passada tentei de novo. Diop faz uma mistura interessante entre a realidade e a ficção, trabalha bem com o escuro, o vazio, os sons. As falas encarnadas nas estátuas, com interrogações e dúvidas de como encontrarão sua terra natal depois de, sei lá, cem anos.
Nos 68 minutos da produção, as imagens parecem quase sempre encobertas, como se algo ou alguém “atrapalhasse”, como para transparecer uma certa confusão. Cenas por detrás das estátuas, takes por entre grades, takes limpos mesmo foram poucos, exceto as mais abertas, para mostrar a beleza natural que é Benin, ou a imponência do palácio do governo federal. Sei lá, ou nada a ver, viajei.
Dahomey, como se chamava a região antes de se tornar ‘République du Bénin’, traz delicada linha de equilíbrio entre a alegria do povo em ter de volta o que é seu de direito, e a crítica – diversas vezes em tom exasperado – de uso político entre os governos francês e de Benin. Momento saiba mais: a nação beninense situa-se na África Ocidental, tem aproximadamente 13 milhões de habitantes e regime presidencialista.
Se a parte estética, audiovisual, cumpre legal o papel, ao meu ver o diferencial – para o bem ou para o mal – é literalmente por o retorno dos tesouros reais em discussão. Parte do documentário se passa na Universidade de Abomey-Calavi, em que estudantes e gente da classe cultural divergem sobre a importância da ação.
De que adianta retomar uma ínfima parcela do total? Mas, sem esta ação, este ponto de vista nem existiria, responde. Na escola, nos disseram que eram coisas que nos foram levadas, nunca tesouros. Sinceramente, para mim essas estátuas não representam nada, replica. As 26 obras foram colocadas em museu de Abomey, e até a decisão do local aonde foi alvo de questionamento.
Resgate da identidade, patrimônio imaterial e material, do que adianta se muita gente passa fome em Benin, a chegada dos objetos mexeu com sentimentos de muitas pessoas. Abrangência monstra.
Argumentos de parte a parte, de modo a proporcionar que tire suas conclusões. Ao menos, foi isso que entendi. Se por um lado, pode ser positiva a incursão das opiniões, por outro, há o risco de quebrar o ritmo do longa, até ali em traquejo com requinte artístico bem satisfatório.
Considero que valeu a pena, sim, (re) ver Dahomey. Esse lance de reivindicar obras, objetos, e tesouros saqueados por colonizadores, ou levados a outros países sem permissão, tem de estar em voga. Inclusive no Brasil. Lembra, por exemplo, o fóssil do Ubirajara né?! Do dinossauro do Brasil que foi contrabandeado para a Alemanha, então…
Sobre Oscar e tal. É outra pegada em relação ao filme de Walter Salles. O pitaco é que para Dahomey a produção brasileira não perde. Porém, é chute. Esperemos.

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Obs – Este post utilizou informações de:
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- Wikipédia – Dahomey

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