O Próprio Enterro envolve julgamento, racismo, e é leve

Imagens: Divulgação

E aí, beleza?!

Dica da vez é tranquilinha. Eu acho.

O Próprio Enterro, em inglês The Burial, dirigido pela estadunidense Maggie Betts, é misto de filme de julgamento e comédia. Betts fez entre outras coisas Noviciado (Novitiate, 2017, parece ser bom), e nesta produção bem mais recente, de pouco mais de duas horas, tem no elenco caras que dispensam comentários como Jamie Foxx e Tommy Lee Jones.

Só aí já rola um, “tá bom, vou dar uma chance”.


Olha, momento sinopse – lá da Prime Video - vai rolar meio sobre protesto, acho que diz coisas demais. Enfim, vai aí:

“Inspirado em eventos reais, quando um acordo dá errado, o dono da funerária Jeremiah O’Keefe (vencedor do Oscar® Tommy Lee Jones) contrata o advogado Willie E. Gary (vencedor do Oscar® Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem e o riso surge quando o vínculo dos dois expõe a corrupção corporativa e a injustiça racial nessa história inspiradora e triunfante.”


Entendeu quando disse que a bagaça é tranquilinha? Ao menos para a média deste bloguinho. O título do longa é interessante. O enterro se encaixa em mais de um contexto. Pode ser para um personagem, alguma situação, virada nos acontecimentos, e tal. Parafraseando minha mãe, a produção foi inspirada “em fatos legais”. Reais. Nesse caso, dá na mesma.


Maggie Betts faz troça com o racismo ao usá-lo em vários diálogos o humor - dizem e eu acredito, das ferramentas que mais entram na mente. No tribunal, o preconceito racial entra no jogo e tanto defesa como acusação enfiam a unha na ferida e cutucam para valer.


Ah, melhor explicar um pouco essa parte. Jeremiah é dono de empresa funerária familiar no interior dos States. Anda mal da pernas e a pedido do seu amigo e advogado Mike (boa atuação de Alan Ruck), fecha um acordo, lá no Canadá, com um conglomerado que almeja dominar todo o mercado.


Porém, a corporação cujo rosto que aparece é de Ray Loewen (Bill Camp manda muito bem), adota tática de enrolar para fechar o negócio e assim estrangular financeiramente o nosso glorioso e eterno Homem de Preto, entre tantos outros personagens e filmes marcantes (O Fugitivo, Onde os Fracos Não tem Vez, etc). Segundo a imprensa gringa, o papel do pacato e honesto Jeremiah inicialmente era para ser de Harrison Ford.


Deste modo, a contragosto do amigo Mike, Jeremiah decide processar a meio bilionária empresa. Aconselhado por um jovem e perspicaz advogado, Hal Dockins - o mauritanês Mamoudou Athie, 35 anos mas nem parece, em interpretação que não prejudica em nada o filme - decide contratar o espalhafatoso e ostentador Willie E. Gary. Desnecessário dizer que Jamie Foxx praticamente comanda o longa, aparentemente feito sob medida.


A razão da escolha de Gary para defender Jeremiah é peculiar, mas realista. Se você ainda não assistiu, vou deixar para lá. Tanto a sinopse como o trailer já falam tanta coisa sobre O Próprio Enterro, que ao menos isso deixarei quieto.



Do lado inimigo, é contratada Mame Downes, advogada super conceituada, a melhor opção que o dinheiro da poderosa empresa poderia ter. Vivida por Jurnee Smollett, a doutora vai travar um bom combate, marcado no limite do moralmente permitido para se ganhar o julgamento, com milhões de dólares em jogo.


The Burial é uma sugestão leve, estilo Para Todas as Idades, e deixa em alto e bom tom o protagonismo negro. Maggie Betts, afro-americana, meio que apronta um Cavalo de Troia ao abordar o racismo estrutural. Ela também assina o roteiro junto com Doug Wright.


De quebra, satiriza rapidinho o “Sonho de Vida Americano”.

Em certos trechos, exibe belas imagens do interior do país, como as cenas na fazenda de Gary. A trilha sonora evidencia os diferentes estilos conhecidos Estados Unidos afora, levados pelos blacks. Pra variar, sem os devidos créditos. Coisas que até lembram uma outra nação da América… do Sul.


Na semana que comemora-se o Dia da Consciência Negra, o fato de em Campo Grande não ser feriado diz muita coisa.


Acho que deu.




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