Contra o preconceito, é como todos 'Tingam' de se comportar

Você conhece o senhor Paulo César Fonseca do Nascimento? Brasileiro, 36 anos, nascido em Porto Alegre, que disse o seguinte, na noite de quinta-feira. "O momento que realmente me deixou chateado foi quando soube que meu filho começou a chorar muito, sem entender o que estava acontecendo", disse à rádio CBN. "E hoje (quinta-feira) ele não quis ir para a escola. Eu estou preparado, porque a minha vida sempre foi de provações, mas minha família não está preparada."
Pois é, o senhor citado acima para quem ainda não matou a charada é o jogador Tinga, ofendido por torcedores peruanos, que imitavam sons de macaco a cada vez que o brasileiro tocava na bola.
É isso mesmo, se você não entendeu. Não se trata de ser cruzeirense, de fingir que “ah, é muito barulho por nada, se ainda fosse alguém do meu time”. Tampouco a indignação não é “só” por ser negro. “Isso aí acontece em todo o lugar”. Tinga, antes de tudo, é brasileiro. Antes de tudo ao quadrado, é tão humano quanto aos que o ofenderam (bom, teoricamente devem ser). Para estes que se acham 100% latino-arianos, quem nasce nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza é, digamos, igual ao Blanka do joguinho do Street Fighter. Mas, que beleza, não?!
Sim, neste país continental há muito preconceito. Às vezes, camuflado de bairrismo, ou de piadinhas. Como o próprio TInga declarou, “nós acabamos nos acostumamos com isso”. Infelizmente.
Longe de ser da patrulha ideológica, ou dos blocks do politicamente correto, sei que a linha entre tirar um sarrinho e ofender alguém é tênue. Muitas vezes, subjetiva. Porém, assim como há especialistas que enchem a boca para dizer “não existe bobo no futebol”, qualquer um, incluso eu, sabe quando fulano pega pesado na brincadeira.
E, o que aconteceu no Peru, país cujo povo até antes da partida foi elogiado por Tinga pela hospitalidade, convenhamos, só quem nutre simpatia reprimida pela Ku Klux Klan aplaudiria este tipo de torcedor.
Mas, e aí, o que vai acontecer? Dá até vergonha de responder. O medo da impunidade, aqui como lá, enrubesce o rosto de quem ainda acredita na boa convivência entre os homens. Na súmula da partida, documento em que o árbitro relata como foi o jogo, nada consta sobre os atos racistas. O venezuelano José Argote acredita ser normal os fatos ocorridos. Parece Maduro esse juiz hein?!
E, olha, ainda teremos o jogo da volta. Nove de abril, no Mineirão. Alguma dúvida de como estará o clima da partida? Olha só as pérolas que circulam nas redes sociais de, teoricamente, torcedores cuzeirenses: “A maior derrota foi da torcida, voces acham q sao loiros ne? Cambada de cara enchada! Pais d terceiro mundo! Animais dos inferno”, “Indios pobres del tercer mundo, no minerão seran atropelados”.
Vai vendo. O que resta é torcer. Mas, torcer de verdade. Não com invasões a centro de treinamentos, ou no famoso olho por olho, dente por dente.
Melhor é encerrar com mais um momento de lucidez do Tinga, ao site da Folha: “Quem sou eu para não perdoar? Muita gente lá se solidarizou comigo, o presidente do clube e o técnico do time me pediram desculpas, mostrando que esse não é o sentimento geral do povo de lá. Foi possível notar que tratava-se de uma população sem acesso a cultura. O pior mesmo é quando isso acontece em países mais desenvolvidos, como na Europa e até mesmo no Brasil”.  Bom fim de semana a todos.

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