Talvez seja pregar no deserto, Johnny 316 é a dica

 

Reprodução
 

Na real, assisti mês passado – fiz até um story - só que volte e meia martela na cabeça. Daí resolvi passar por aqui e deixar brevemente registrado.

Johnny 316 é um filme independente lançado em 1998. Tem Vincent Gallo – conhecido nova iorquino que tem um pé fora do mainstream - e Nina Brosh – atriz e modelo israelense - em papéis centrais. É dirigido por Erick Ifergan e, aqui, neste caso, tem um lado bom e outro nem tanto.
O bom é que se quiser assistir tem no YouTube de grátis.
O nem tanto é que não achei legendado. Mas, de repente, você encontre nesse mundão virtual de meu deus.

Aliás, deus é um dos motes desse insólito romance de menos de uma hora e vinte. Johnny 316, creio, é alusão à passagem bíblica de João, capítulo 3 versículo 16. Pelo que entendi, a passagem é famosona.
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Então, no filme, Gallo é Johnny, homem sem grana e que passa o dia na rua a recitar versículos bíblicos, que ninguém dá bola pros panfletos que distribui.
Lá pelas tantas, ele chama a atenção de Sally, jovem que trabalha em modorrento salão de beleza, e tem relacionamento longe de ser legal com a mãe.

O pano de fundo é Hollywood Boulevard, sem glamour nenhum. Nesse cenário melancólico, vão se trombar e desenvolver uma conexão...

Erick Ifergam, à época mais videomaker do que diretor propriamente dito, faz a produção soar aquelas coisas esteticamente carregadas. Bastante closes, rostos a estampar desalento, enquadramentos que beiram o bizarro em ambiente degradante e tal.

Johnny e Sally parecem terem saído de histórias a la Nelson Rodrigues ou cinema brasileiro de décadas passadas.
Porém, ao que indica, Ifergan teve inspiração de trechos da obra Salomé, de Oscar Wilde.
Aviso: o que conheço do universo rodrigueano vem das peças audiovisuais. Sobre Wilde, vixe, conheço somente de nome. Estou em falta, né.

Parece que a passagem bíblica João 3:16, entre muitos significados propostos, está “a oferta do sacrifício supremo para a redenção da humanidade”. Talvez seja essa a obsessão do personagem principal.

Sally, por sua vez, vive sem perspectiva nenhuma, vaga pelas ruas, ainda tem de lidar com um cara pegajoso (que não é o religioso). Encarna em Johnny sua tábua de salvação.

As atuações de Vincent Gallo e Nina Brosh parecem quase intervenções teatrais. Ou, cinema novo, sei lá, posso estar falando abobrinha para variar.
A relação de cumplicidade da dupla denota um ar que instiga e agoniza. Como dito, as locações são predominantemente pálidas ou escuras.
Ah. a trilha sonora é interessante. Vai de música clássica, até Tom Waits e Nick Cave and the Bad Seeds.

É verdade, tem muita chance de se frustrar ou achar um porre. Não incluiria em uma lista dos preferidos da vez.
Vale quase como um registro de época, de fazer algo sem muita grana - alguns dizem que Gallo queria juntar uns dólares para engatar Buffalo 66 - e medo zero de dar com burros na água.

Ah, e, mesmo sem legenda, se você ter uma noçãozinha que seja – como eu, por exemplo – dá para levar o filme de boa. A maioria dos diálogos se dá sem atropelos. Claro, se conseguir um meio de ver legendado ou dublado que seja, vai ser melhor.

É isso. Se assistir, depois me fale. Ou, não.

Dá para assistir por aqui (tem outros links por aí também)


Bebi um pouco dessas fontes
“Johnny 316
Vet musicvid director Erick Ifergan's "Johnny 316" takes Oscar Wilde's "Salome" and transfers it to Hollywood Boulevard.”

- Wikipédia

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