Às vezes é muito difícil falar o que sufoca. Bebê Rena vai por aí

 

E aí?!
Assisti Bebê Rena (Baby Reindeer no título original) de uma pancada só. Sexta invadindo sábado. Dali em diante comecei a me perguntar porque a minissérie tá (bem ou mal) muito falada. É que evitei ler a respeito da produção da Netflix.
Atenção: pode conter coisas que você não quer saber até assistir.
Dito isso, até certo ponto da produção, pensei, “esse cara pede pra tomar na cabeça”. Depois, vê-se que a bagaça não é bem assim.
Peraí, momento sinopse do streaming: “Um comediante é gentil com uma mulher vulnerável, despertando uma obsessão sufocante que pode acabar com as vidas dos dois.”
Em sete episódios, a história é montada em personagens “desajustados”. Ela é uma adaptação do show solo autobiográfico homônimo do criador de Bebê Rena e baseada em sua vida real.
Tem a stalker, um garçom/comediante frustrado, uma trans, uns coadjuvantes machistas, drogas, sexo e por aí vai.
Ela incomoda por vezes e, se bobear, você nem sabe bem o porquê. Ou, prefere não saber. Deixar este tipo de sentimento bem escondido. “Alguém te machucou, né?!” A pergunta feita por Martha a Donny logo em conversa dos primeiros episódios é a senha que desemboca em gatilhos gigantes.
Martha é interpretada belissimamente por Jessica Gunning. Não sei você, mas em muitas ocasiões ela gera empatia maior que a de Donny também bem incorporado por Richard Gadd. O escocês também foi o idealizador dessa produção britânica, cujos episódios têm direção de Weronika Tofilska e Josephine Bornebusch.
Calma, longe de passar pano para suas atitudes. Realmente, precisa de ajuda. Talvez, ele também.
“Às vezes parece que ele é quem stalkeia ela”, bem observou a Claudinha, amiga que indicou esse rebento. Verdade, espécie de Síndrome de Estocolmo, talvez? A baixa auto estima dele encontrava talvez de forma masoquista um reconhecimento que o agradava em vários momentos.
A coisa fica séria de vez quando Donny conhece Teri, trans aparentemente bem mais resolvida que a dupla em questão. A personagem também merece menção honrosa na interpretação bem boa da mexicana Nava Mau. Assim, o triângulo amoroso tempestuoso está montado.
A série entrega bem mais do que uma história stalkeriana. Tem potencial de derramar sensações e sentimentos que muitos carregam a vida inteira. Tem de ser pessoa muito evoluída para realmente deixar a mágoa, o sentimento que sufoca, o medo que a memória te trai, te traz.
Tem um tiozinho, já falecido, o J Krishnamurti, que defendia estar fora de cogitação dizer que alguém encontra-se bem mentalmente em uma sociedade doente.
Por outro lado, o mesmo era contra ensinamentos/líderes religiosos e também da psicologia. Resumidamente, pois pra explicar teria de alongar muito nesse assunto, tais caminhos são fugas ou tentam suprimir ou diminuir as mágoas, e/ou traumas. O melhor caminho é investigar, confrontar ate que o tal sentimento não te aporrinhe mais.
Como estou longe, talvez eternamente distante, de alcançar este nível, até o momento sou do time que acredita que há situações que você levará para a vida. Desde uma agressão, física ou verbal, até algo em sua relação amorosa, familiar ou profissional da qual você pode até “superar”, ou silenciar. Mas, vai estar em seu ser pra sempre. Rusticamente, é o “quem apanha nunca esquece”.
Usei o momento filosófico mequetrefe para dizer que Bebê Rena tem muito disso. Até há instantes engraçados, um humor com pitada britânica, às vezes tragicômica.
Entretanto, no geral, é forte, expõe também o lado mais e menos glamouroso do meio artístico. Traz a reboque o estrago que a rede social pode fazer na pessoa. Mas, principalmente, como a humanidade é complicada. Beeem complicada.
Assistir Bebê Rena talvez funciona como terapia. Claro, nada substitui o apoio especializado. Pedir ajuda vale muito. Ao fim de alguns episódios, a própria produção recomenda que abusos sejam denunciados. Acho que até tratamentos.
Seja como for, consegue tratar de assuntos muito difíceis, sejam emocionais ou sociais, de forma horizontal, longe de tom professoral ar de superior, ou moralismo barato, de apontar o dedo.
Usa personagens escancaradamente disfuncionais para falar de gente como a gente. Ou, não?!
Deu, né. Mais só se for ao vivo. E, sem chá, se é que me entende.


E aí, o que me diz sobre Bebê Rena?
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