Talvez seja hora de rever a tal identidade cultural de Campo Grande

 

E aí?!


Pode parecer pretensioso, ou fora da casinha, leigo que sou: mas podemos começar a trabalhar em uma reconstrução da identidade cultural de Campão? Eu sei, discurso geral é a de que a cidade tampouco ainda tem uma.

Ou seria a terra do sertanejo? Ou country, pra ficar mais chique. Sertanejo universitário. Abrir esse leque musical.

Agregar mais ingredientes ao sobá, o carreteiro, o chimarrão, o tereré. Quem sabe?


Cara, só esse ano, nos rolês aleatórios já pintaram grafite, jazz, teatro, rap, filosofia, música clássica. Sem contar os que não deu pra ir e as paradas que nem, fico sabendo.

Tem muita gente a pedir passagem. Essa imagem de que nada acontece na cidade de quase milhão de pessoas tá meio errada. Posso estar enganado… Espero que não.


O devaneio enrolado de sempre no começo é para entrar no sabadão que passou. Passei a tarde e começo da noite no campus da UFMS, onde rolou o Festival da Juventude.


Coisa pra caramba e tudo de grátis. Podia ter mais gente, com certeza. Por outro lado, quem foi nos quatro dias, fica a minha “invejinha boa”. Muita representatividade. Aos que passaram longe, perderam.


Pessoal da Casa Moringa (DF)
- Veredas do Mamulengo 


Cheguemos lá no estacionamento do Glauce Rocha, debaixo de um sol danado. Há tempo de pegar desde o início as minas do Distrito Federal, e sua Veredas do Mamulengo. 

Elas fazem parte da Casa Moringa e, acionam os bonecos pra mandar a mensagem contra a extrema direita que dá um trabalho danado. 

De um jeito divertido, sobram menções nada honrosas ao agronegócio, trabalho escravo, ao governo federal anterior, e por aí vai.



A pauta antirracista se fez notar em cores vivas. Lado a lado com as expressões de rua, e a literatura. Rolou Batalha de Rima com temas variados e, que fizeram os rappers da vez improvisar no improviso. Muito divertido. Suspeito eu sou, hip-hop escuto desde meados da década de 80, molecão de tudo.

Nos duelos, houve coisas bem legais, outras que valem pelo esforço e a coragem de subir no palco e mandar sua ideia, mesmo que na hora não vem as palavras.



Respeito para a participante de Três Lagoas, eu acho, e, foi mal, não lembro seu nome. Única mulher na parada. “Ano que vem quero ver mais mulheres aqui em cima!”, mandou a ideia, com direito a aplausos.


Presença feminina na
batalha de rima


Literalmente, a Batalha de rima fez tanto barulho que fez a conversa com Preta Ferreira atrasar um pouco. Sem problemas. Conhecia pouco da multiartista e ativista que ficou presa injustamente 108 dias e daí a inspirou a escrever o livro “Grito de Liberdade: Minha Carne – Diário de Prisão”.

Preta Ferreira é daquelas pessoas que bate de frente pelos direitos não somente seus, mas de todos os seus e, principalmente, das suas. Mulheres e Negras.

Luta pelo direito a moradia e, exibe uma empatia difícil de ficar indiferente. É menos linha paz e amor, e mais a liberdade nunca será dada pelo opressor. Ao mesmo tempo, que sabe contar histórias, exprime uma ironia fina que qualquer um entende.

Vai atrás de seu sonho, como alguém que procura o trevo de quatro folhas em meio ao mato. Opa, essa frase quem esteve lá no auditório, ou manja de Preta Ferreira, vai entender.


Karô Castanha e Preta Ferreira

Não fiquei até o final. Uma hora o cansaço bate, e a fome mais ainda. Caçar um lugar para comer. No sabadão, ainda conferi um pouco do pessoal do breaking – coletivos de Camapão mesmo – e mandaram muito bem. O Festival reservava ainda show do Falange da Rima, Marina Peralta, e DJ Magão nas picapes.


Coisa pacas, né.


Isso só em um dos dias. Teve nos outros dias, a chance de fazer perguntas ao Arnaldo Antunes, Marcelo Rubens Paiva, Sérgio Vaz, entre outras pessoas bem legais.


A resistência indígena também esteve lá na cidade universitária. Com artesanato da aldeia urbana Marçal de Souza, e show do Bro MCs, entre outras figuras.


Vagas do estacionamento do Glauce estiveram preenchidas por livros, rodas de conversas com escritores e escritoras, com produção local bem interessante, discos raros produzidos em MS, e espacinho para os geeks. Saca, né?! Rolou concurso de cosplay e tal. Viva a diversidade.


E eu só observando, e pensando: que legal pessoal se manifestar sem nenhum mala, ou brucutu, encher o saco. Seria uma Gaza imaginária? Na boa, tenho dúvidas quanto ao retorno esperado pela organização. Pessoal da produção se esforçou a olhos vistos.


Tomara que tenha uma edição 2025. Ou pelo menos o Festival deste ano tenha feito avançar umas casinhas para aumentar o caldeirão cultural de Campo Grande. Bora desconstruir aquelas velhas opiniões formadas sobre tudo que rola nesta CG City. Essa tal identidade própria tem de passar por uma crise...de identidade. Assim, faça jus e traga visibilidade ao que rola na cidade como um todo. Isso é. Cultura de rua.


Vixe… já deu né. Deixa eu descer...

Ah, e feliz dia do trabalhador.

Imagens: Blog do Kishô


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Abraço, se cuide.

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