No embalo dos 50 anos do rap, rimas indígenas é marco atemporal
Reprodução/Brô Mc's Oficial |
Mês passado marcou os 50 anos do rap. Se você tem algum apreço pelo som ritmo e poesia já sabe disso, claro. Saiu um monte de coisa, eu mesmo listei um doc na Netflix sobre mulheres no estilo dos Estados Unidos. Tenho de ver.
Pegar esse gancho bem sem vergonha para lembrar que o estilo musical nascido lá no Bronx bateu lá na mata, no Mato...Grosso...do Sul. Há pelo menos uma década as rimas do Brô MC’s são ferramentas que dão voz aos povos originários.
“Vi esses caras em um show na praça do centro, aqui de Campo Grande. Se não engano, foi em 2010, como parte de um projeto que ainda teve Milton Nascimento na fechadura dos shows. E, Nação Zumbi, na abertura. Bons tempos. Deixe o estranhamento de lado e curta o trampo dos Bro’s.” Nem lembrava, escrevi em um post, aqui no bloguinho, “O RAP faz 40 anos, eu conheci há 30. E, aqui vai umas 10 músicas que gosto muito”.
Desde Eju Orendive, cartão de visita dos então iniciantes caras do Brô, com Bruno, Charles, Clemerson e Kelvin, das aldeias Jaguapiru e Bororó,região de Dourados, eles só melhoram. Durante a pandemia, assisti uma live com participação deles. Mandaram bem.
Lembro que neste evento dos anos 2010, na praça do Rádio Clube, de caminhada até ficar mais ou menos perto do palco, amigo meu disse: “Rap indígena é estranho, meio nada a ver... será que combina?”. Não encontrei com o conhecido depois. Espero que tenha mudado um pouco seu conceito.
Música atravessa fronteiras. Aliás, fronteira é uma coisa… deixa pra lá.
Caso contrário, ao pé da letra, estranho também é brasileiro fazer rock, música eletrônica, funk, blues, jazz, e rap. Gosto é igual a, sei lá, cada um tem o seu, cada uma tem a sua. Se de alguma forma o som me toca de maneira que quero ouvir de novo, voltar a faixa, e coisas mais, já era. Como sempre, lembro de Francisco Assis França, basta deixar tudo soando bem aos ouvidos.
Volto ao Brô, na minha playlistinha de rap, além de Eju Orendive, tem mais duas flechas sonoras. Uma é Humildade, que em dado trecho fala:
“Nunca pisou na reserva
Não conhece a nossa história
Mas sai por aí falando um monte de lorota”
A outra é Tupã, sonzêra hein?!
“Aldeia
A vida mais parece uma teia, que te prende, te isola
Não quero sua esmola, nem a sua dó
Minha terra não é pó, meu ouro é o barro onde piso, onde planto
Que pisa seu sapato quando vem na reserva fazer turismo
Pesquisar, tentar entender o porquê do suicídio
Achar que não tem nada a ver com isso
Mas pelo contrário, eu te digo
Você é tão culpado quanto os que aqui chegaram”
Tem outra música legal também que é o pessoal do Brô, junto com Kunumi MC, e Oz Guarani. Resistência Nativa é c onexão com São Paulo, e um recado para essa bagaça de Marco Temporal. O clip também ficou bacana, nervoso.
Para encerrar, documentário, acho que saiu por volta de 2019. “Meu sangue é vermelho”, sobre Owerá, um jovem rapper indígena. Dirigido por Thiago Dezan e Graciela Guarani, exibe lado a lado o desafio de fazer música e o entender porque tanta violência sofrida pelo seu povo. Em sua jornada, aparece Criolo, que dá a maior força.
A produção tem participações do peso como Sonia Guajajara e Ailton Krenak, esse admiro pacas.
Acho que dá para assistir na Amazon Prime e na Globoplay.
E é isso, na real, usei o pretexto do rap completar 50 aninhos para versar sobre as rimas originárias. Ou vice-versa.
Se não conhece o trampo do pessoal, vale uma chance. Se já está a par, certeza que está bem mais por dentro do que este que escreve. Que bom! Aceito dicas.
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