O difícil limite entre futebol e poder público. Se é que existe

Tem certas coisas que beiram quase o lugar-comum, porém, me deixam ressabiado. Uma delas é este monte de concurso público ano após ano. Sem entrar no mérito de que é preciso preencher vagas, ou criar mais empregos.
Do jeito que a vida anda, concurseiro é uma boa pedida. Desde que você consiga a tão sonhada estabilidade. O problema, em minha modesta opinião, é o poder público oferecer salários tão ou mais vantajosos do que a iniciativa privada. Como estimular a concorrência ou motivar alguém a fazer crescer o seu negócio (sem trocadilhos chulos de duplo sentido, por favor), se o governo “não sabe brincar”?
Sim, quem rala, estuda muito merece conquistar um bom salário. Mas, que é pelo menos contraditório, é. Sei, a discussão está longe de ser simplória.
E o que o futebol tem a ver com isso? Bom, ainda antes da Copa, havia comentado em algum lugar real ou virtual deste mundo sobre o que escreveu o jornalista Carlos Eduardo Mansur, do Globo, em seu Blog do Mansur. Em abril deste ano, disse que dos 20 clubes que hoje estão na Série A, dez de algum jeito ou de outro contam com patrocínio estatal: Corinthians, Flamengo, Coritiba, Vitória, Sport, Atlético-PR, Figueirense, Chapecoense, Grêmio e Inter-RS. E, não são poucos os milhões que saem dos cofres públicos para o futebol “profissional”.
Primeiro, são entidades de natureza privada. Então, que saia da barra do Estado e vá buscar suporte financeiro no mercado. E, segundo, teria de ser tratado como qualquer outra empresa. Por que as grandes marcas e/ou indústrias são minoria na questão dos patrocinadores?
Aos clubes que, infelizmente, não conseguem se manter, que cerrem as suas portas. Pelo menos até acharem uma solução juntamente ou não com os seus milhares de torcedores.
Eis que na terça-feira, cartolas de 12 clubes tiveram reunião com o governo federal para discutir a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. Na verdade, foi mais uma tentativa dos pobres clubes, e ricos dirigentes, de negociarem suas dívidas. As estimativas giram em torno de um rombo de R$ 2 bilhões.
Pouco né? Bom, se o Aquário do Pantanal que está sendo erigido em Campo Grande está orçado em quase R$ 106 milhões, o calote dos maiores times do País daria para fazer apenas mais 17 aquários.
E não é só isso. No melhor estilo “devo, não nego, pago quando puder”, usaremos o garboso termo refinanciamento da dívida para lembrar que a idéia proposta é parcelar o montante em 300 parcelas. Ou 25 anos. Puxa, se vingar realmente esta lei, é melhor os cartolas se apressarem. Um quarto de século passa rápido né? E, convenhamos, tudo pode ser renegociado. Encaremos o gesto entre cartolas e União como um “Meu Clube, Sua Dívida”.
E eu preocupado com uma pá de prestações. Pensando em montar um clube... Passou.
O mais (ou menos) intrigante é que, de todo modo, eles insistem em reclamar. Lamentam, clamam por apoio. Sei lá, acho que nem psicólogo explica. Por favor, um apagão daqueles para justificar tudo isso. E nem preciso dizer que foi 7 a 1.
Apagão, aliás, é o que também ocorre por estas bandas sul-mato-grossenses. Veja o Itaporã, penalizado por R$ 7 mil, grana que faltou para as despesas de sua estreia em Dourados. O dirigente reclamando de tudo e de todos, até da federação que “não ajuda, só suga”. Interessante.
Vale lembrar: a presidência da FFMS foi reeleita este ano por unanimidade. Mais um túnel do tempo: o governo estadual (sempre ele) ajuda todos os times que disputam o Sul-Mato-Grossense da Série A há um bom tempo, ao pagar as despesas das viagens para os jogos.
Se nem com esta ajuda pública para alavancar o “profissional” está resolvendo...alguma coisa está errada. E não é de hoje tanto aqui como nos grandes clubes.
Bom fim de semana a todos.

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