Existem indivíduos que passam longe de ser torcedores

*Publicado na edição de sábado (30) do jornal O Estado MS

A torcida em um jogo de futebol às vezes é tão importante quanto os times que lá dentro do campo estão. Não peça para explicar a um torcedor de verdade o que o faz ir ao estádio.
Dificilmente ele te dará uma só resposta. Vai ver são muitos os motivos, as razões (ou a falta de), desde que veio de berço, ou que começou a gostar após ver aquele jogador ou o time ser campeão. Alguns, com inconsciente masoquismo, escolhe um clube que está na “fila” de título há anos. Ou torce para tal time sob alegação de ser do “contra”.
Ou, como eu, virei torcedor justamente ao ver a paixão de outros torcedores. Os cânticos, as bandeiras, as coreografias. Sei lá, fazia e ainda faz um barulhinho bom.
O fator arquibancada é fundamental desde os primórdios do esporte nacional. O país do futebol, agora depois da Alemanha (brincadeirinha), já registrava esta paixão para a história.
Veja, e se quiser, escute depois, alguns trechos de hinos de clubes que registram o papel do torcedor. Espécies de ‘hino-selfies’.
“Comercial é o maior, A torcida já consagrou”
“O Operário é dono da torcida De Campo Grande a mais unida”
“Torcida que canta e vibra Por nosso alviverde inteiro”
“Hei de torcer, torcer, torcer... Hei de torcer até morrer, morrer, morrer... Pois a torcida americana é toda assim”
“Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”

E há muito mais. Estes foram os que lembrei de cabeça. Alguém pode questionar a qualidade técnica e/ou musical das letras. Porém, suspeitar do amor do torcedor, jamais. Sem a massa, os 100, 500, 1000, 10.000, que sejam, o espetáculo perde a graça.
Você já deve perceber aonde quero chegar, né? Caro amigo, esporte é uma coisa linda, torcer é do jogo. Provocar, fazer uma piada alfinetando o rival, também.

O que aconteceu na noite de quinta-feira, em Porto Alegre, não foi coisa de torcedor. Os acéfalos que xingaram e fizeram gestos e sons de macaco endereçados ao goleiro do Santos, Aranha, são incapazes de explicar o que é ser torcedor. Porque simplesmente não o é. Tenho amigo meu, que morou por um tempo na capital gaúcha e sofreu alguns entreveros com pseudo-torcedores. “Não tem torcida mais racista que a do Grêmio”, afirmou.
A generalização é perigosa. Conheço gremistas que aqui em Campo Grande moram e posso afirmar que repudiariam os atos imbecis na Arena Grêmio. Sou contra penalizar o clube, fazer o time atuar de portões fechados. Seria o mesmo que proibir a fabricação de carros porque alguém atropelou ou provocou acidente de propósito. A culpa não é do veículo, nem do futebol. Que seja punido o infrator, que seja preso o “torcedor”. A impunidade, sim, contamina. O passar a mão na cabeça e deixar tudo como está os motiva a fazer de novo, e de novo, e de novo. Se deixam estes membros de organizadas, que em sua maioria esmagadora torce para a sua torcida mais do que o time, entrarem de graça ou acham graça em seus atos, que nesta hora respondam por suas peripécias.
Para isto, é preciso muita coisa. Mas, basicamente, vontade. O detalhe no caso do jogo do Grêmio, é que já houve casos semelhantes. E, nada foi feito. Acredita? Claro que sim, infelizmente o certo é exceção.
Ah, mas o racismo está arraigado na cultura brasileira. Puxa, tudo bem, mesmo que este mantra tenha muito ou quase nada de verdade, chega de adubá-la, né? Passou da hora de arrancar pela raiz estas ervas daninhas, que provoca danos profundos em que é o alvo.
Bom fim de semana a todos. Eu me despeço com trecho do hino do Grêmio. Que, acredito, está entre os mais bonitos entre os clubes brasileiros, ao lado do Flamengo, e atrás do América do Rio.

De autoria do grande Lupicínio Rodrígues, ou “Lupa”, como uma amiga gremista carinhosamente o chama, presta atenção aí: Nós somos bons torcedores Sem hesitarmos sequer Aplaudiremos o Grêmio Aonde o Grêmio estiver”.

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