Arena Pantanal, Cuiabá, por quem esteve lá in loco
Contribuição bacana de um sul-mato-grossense ao blog
De quem conferiu de pertinho
Arena Pantanal para o jogo Luverdense x Vasco Jones Mário |
Se apertando no padrão Fifa*
A cerca de 700 quilômetros mais ao norte de Campo Grande tem uma Copa. Uma Copa no meio do caminho. Ou no começo dele. Cuiabá e suas obras para todo canto por onde se passa na cidade me surpreenderam, tanto para o lado positivo quanto para o negativo. As obras estão pela metade, algumas ainda no início, e jamais ficarão prontas até o megaevento. Mas não considero uma falha, e sim, uma baita afronta aos padrões impostos pela toda poderosa Fifa.
Aventurei-me no centro da América do Sul e acabei desbravando a Arena Pantanal. O jogo entre Luverdense e Vasco entrou para a história, junto com o atacante Reinaldo, que marcou o primeiro gol do novo elefante bran... ops, estádio. Antes disso, achei um assento ao lado de duas crianças sensacionais, extremamente dóceis e brincalhonas. Torciam pelo time mato-grossense ao mesmo tempo em que imploravam por pipoca aos pais. Sacudiam e chocavam com força dois “pirulitos” de ar, parecidos com bóias de piscina, distribuídos pela organização do jogo. Mas para chegar até lá tive que fazer uma fila inteira de pessoas se levantarem, pois o corredor entre as séries de cadeiras eram tão curtos quanto os cabelos do Blairo Maggi. Foi aí que comecei a sentir o padrão Fifa apertar.
A elitização excludente do futebol pré e pós-Copa vista no restante do país refletia também nas cadeiras azuis e acolchoadas do ‘caixote’, modo como meu avô, companheiro na empreitada, classificou a arquitetura da Arena. Em uma cidade onde quase 32% da população declaram-se parda e preta, 90% dos 17 mil que acompanharam a partida eram declaradamente brancos, claramente bem alimentados, e escancaradamente chatos. Era mais fácil ouvir ao longe as marretas trabalhando sem folga no Aeroporto em Várzea Grande, a escutar as manifestações da “torcida” presente.
Ao sair do estádio, alguns problemas. Graças ao isolamento do perímetro da Arena, parte do esquema-teste para os jogos da Copa do Mundo, os torcedores tinham que andar alguns bons metros, que logo transformavam-se em quilômetro. Não conhecia o transporte público da cidade e por isso não procurei por ônibus próximos. Ainda assim, no extenso caminho até uma praça, onde encontrei um ponto de táxi, não vi nenhum “busão”. Que dirá o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que não deve ser concluído tão cedo.
De volta ao hotel, refleti um pouco mais sobre a experiência. Cuiabá vai receber quatro jogos pela fase de grupos da Copa: Chile x Austrália, Japão x Colômbia, Rússia x Coreia do Sul, e o clássico Nigéria x Bósnia-Herzegovina. Conversando com os incontáveis taxistas que me levaram pra lá e pra cá, parece-me que o nível de preocupação dos cuiabanos com a competição é tão grande quanto o nível técnico desta última partida. Sinceramente, eu acho é pouco. A importância dada ao evento deve ser proporcional à preocupação da Fifa com as pessoas, sejam elas cuiabanas, soteropolitanas, cariocas, paulistanas. Pior foi quando comecei a pensar nos voluntários da Copa...
Como alento, Cuiabá vai desfrutar de uma série de novas possibilidades urbanísticas, se deslocarão com maior facilidade, sobre trilhos ou sobre asfalto. O dinheiro utilizado para as obras é público, ao contrário do que foi anunciado quando o Brasil foi escolhido como sede. Então, que o público intervenha, ocupe, use, seja, crie alternativas e resignifique a Copa sob o calor desumano da cidade, compensado pela humanidade de um povo que acolheu tão bem este jovem forasteiro.
*Por Jones Mário
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