Só vi agora, talvez Trem Mistério te transporte a uma época mais leve
Gostaria de falar algo sobre festa junina e tal. Porém, não rolou.
Fato é que fim de semana invernei na minha goma. Assisti via YouTube, um showzão do Nick Cave em Paris. E no dia seguinte, acabei no Trem Mistério. Assisti na Mubi, mas sei lá, deve ter em outros lugares.
Mystery Train (no original em inglês) é de 1989. Passou no Brasil no ano seguinte. Tem direção de Jim Jarmusch. Cara, ele dirigiu filmes de mais destaque, ao que parece. Eu vi há um tempão, o Daunbailó (1986), e, sinceramente, teria de rever para relembrar.
Em Trem Mistério, o diretor estadunidense monta um longa de quase duas horas com comédia meio non sense em meio a locações decadentes, diálogos inteligentes, e boa música. O pano de fundo é Memphis, Tennessee. Pelo início, a ideia é a de que um casal japonês chega por lá para visitar lugares marcantes por Elvis Presley. Como Graceland, casa lendária do Rei do Rock.
Mas, na real, o filme é daqueles com histórias paralelas e tal. Lembra talvez um pouco coisas do Tarantino. Ou Tarantino que remete a Jarmusch, pois Pulp Fiction chegou em 1994. Ou, nada a ver.
O lance é a de que Trem Mistério percorre mais de uma história. A dos turistas japoneses – com visual mistura punk/rockabilly – não está sozinha. Jun (Masatoshi Nagase) e Mitsuko (Youki Kudoh) abrem o longa e a relação deles – sobretudo o estilo do parça – dá por vezes um ar engraçado.
No elenco, tem nomes mais conhecidos. Por exemplo, a de Nicoletta Braschi. A italiana que já havia trabalhado com o diretor em Daunbailó. Sabia que a conhecia de outros lugares. Pô, ela é Dora em A Vida é Bela. Filme de 1997, ganhou uma pá de prêmio, sobretudo Roberto Benigni, com quem Nicoletta é casada desde 1991. Ele também está no tal Daunbailó.
A personagem de Nicoletta, Luisa, é uma italiana que cai em Memphis por uns problemas em seu voo. Assim, termina por passar a noite em um hotel situado em uma região de maioria negra. O local é um dos pontos em comuns em toda a trama. Assim como as lembranças de Elvis Presley.
Passagem interessante no longa se dá entre Johnny, um britânico de cara com a vida, depois de levar um pé na bunda de sua companheira, e Will, seu amigo. É maomeno assim: “estamos em um bairro de negro, um hotel de negro, os funcionários são negros, então porque quadro do Elvis nos quartos? Não podia ser do Ottis Redding? É porque o dono é branco.”
Assim, Jarmusch acidamente retrata em poucos, mas certeiros momentos, o racismo nos EUA. Ah, Johnny é Joe Strummer. Sim, da puta banda The Clash, falecido em 2002, aos 50 anos. Loco, né.
No filme, ele vai encher a cara, fazer cagada, e contracenar também com um ator muito bacana, o Steve Buscemi. Não esqueço dele em Cães de Aluguel (1992), petardo do Tarantino. Buscemi é daqueles que só de ver a cara, já é meio que piada. Faz Charlie, um barbeiro neurótico - lembra minimamente tipos de Woody Allen – e, quase que rouba a cena na vez dele. Também, se consegue mandar bem até em coisas como coadjuvante em Gente Grande, pegar umas boas falas é fichinha para ele encenar.
Ah, meio que como observadores da bagaça toda está a dupla de funcionários do hotel. No balcão, Screamin’ Jay Hawkins – falecido no ano 2000 aos 70 - é meio que o gerente do lugar que, ao que indica, tem apenas um empregado interpretado por Cinqué Lee. O sobrenome não é por acaso, pois o ator, hoje com 58 anos, é o irmão caçula de Spike Lee.
Então, Trem Mistério é meio que dividido em três partes. Em comum, Elvis Presley, o ar irônico-decadente meio que homenagem, meio que não, da cultura estadunidense, e um agradável gosto musical.
Além de trechos de som do Elvis (Blue Moon sempre dá um toque extra), tem pedaços de outros sons bons, como Pain In My Heart, do já citado Ottis Redding, além da trilha com John Lurie, e da locução de Tom Waits.
Nossa, creio que escrevi mais do que realmente achei ter gostado do longa. De repente, ele é bom mesmo. Ou de alguma forma me identifiquei com o jeito errante dos e das personagens. Ou exagerei por aqui só pela vontade de escrever. Ou, fugir, mesmo ciente de que escapar não é alternativa.
De todo modo, fica a dica.
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