Só vi agora, difícil ficar indiferente ao Transtorno Explosivo
Transtorno Explosivo é daqueles filmes difíceis de vários jeitos. Ponto pacífico é a atuação de Helena Zengel. Destruidora, na época, com 11 anos. Filme alemão, de 2019, dirigido por Nora Fingscheidt, ganhou tudo quanto foi prêmio na época de seu lançamento no país de origem. E foi a indicação germânica para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Pois é, só fui saber disso no fim de semana, depois de passar umas duas horas e mais uns bons minutos a processar a pedrada. Sobretudo para quem tem gente bem mais nova que você para dar conta.
Zengel, hoje com 17 anos, é Benni. Garota de nove anos que, momento sinopse, “já se tornou o que os serviços de proteção infantil chamam de ‘destruidora de sistemas’ e não pensa em mudar. Ela tem um único objetivo: voltar para casa e ficar ao lado de sua mãe”.
Tropecei no System Crasher (título em inglês, no alemão é Systemsprenger), pelo Sesc Digital. Baixei o aplicativo faz menos de semana. É de grátis e tem coisas legais por lá. No caso do filme, parece que dá para ter acesso por outros streaming (Apple TV, Globoplay, Prime Video).
Benni, como o título em português entrega, sofre de transtorno. Grita muito, manda e leva porrada nas outras crianças, xinga os adultos como gente grande, e, muitas vezes, só medicação pesada para a menina que é vista pela galera como “caso perdido”. Já passou por vários lugares, famílias, abrigos. Sempre muito explosiva, o que força mudanças de locais de tempos em tempos.
Olha, se você é tipo que pensa que pra melhorar “tem de dar umas boas palmadas”, talvez os ataques de Benni corroborem seu pensamento. O meu, não. Na real, espero que o seu também. Na real dois, sinistro tu ler o blog.
Sou besta, mesmo. Do time da Bafané (Gabriela Schmeide), do serviço de Assistência Social, que talvez seja a pessoa mais próxima da garota e faz de tudo para que ela tenha uma vida mais amena. Ou do Micha (Albrecht Schuch as Michael Heller), que meio que se identifica com Benni e acaba por se afeiçoar além da conta com ela.
A dupla desempenha muito bem seu papel. A parte em que Bafané desaba a chorar é uma das partes tocantes do filme.
E tem a mãe... Bianka (Lisa Hagmeister) faz o espectador possivelmente em posição ame ou odeie a genitora. Ao menos é o que deu pra sentir dentro do filme e em comentários na internet sobre o filme. Creio ser outro acerto da direção da obra. Tire suas próprias conclusões. Quem sou eu para julgar.
Firme na direção, Nora utiliza certo padrão para avisar o que está por vir. Imagens fragmentadas, recordações de Benni, tons que variam conforme o sentimento em cena, meio que funcionam como marcações no desenrolar do drama.
Com a maioria do tempo em modo acelerado, tenso, por vezes, agressivo, a trilha vem junto. John Gürtler assina o instrumental sonoro, estofo ideal para aguçar os sentidos nas relações da menina com as demais pessoas, pequeninas ou grandes.
Do pouco que li sobre o longa, duas coisas valem apontar. A primeira é a diferença de tratamento com crianças com este tipo de comportamento na Alemanha com o Brasil. Sim, é difícil – raso, talvez? - comparar, mas em nenhum momento Benni é algemada, ou policialmente vista como infratora, projeto de delinquente e tal. Há uma rede que busca oferecer algum norte para estes casos. Mesmo que seja para mandar a pessoinha à outro continente.
A segunda foi apontada em texto da psiquiatra Maria Thereza de Barros França, sob título Crônica de Um Fracasso. No serviço de assistência que envolve tutores, especialistas em adolescentes e crianças com transtornos – é o que aparenta no filme - não há alguém que faça um trabalho psicológico com a criança e/ou com a pessoa responsável.
Aliás, a análise de Maria Thereza é muito interessante. Se fosse você, largaria a mão de ficar por aqui e iria ler o as considerações da profissional. Acho que ganharia mais, na boa.
Mas já que tu segues por aqui, valeu. Teria mais coisas para dizer, sobretudo o que senti – canção de Nina Simone no encerramento do longa é apelação - só que já deu.
Se pá, exagerei e System Crasher (gostei mais dos títulos originais ou em inglês) seja um filme superestimado.
Eu gostei bastante. Tanto da parte de roteiro, interpretação, edição, etc, como dos questionamentos e de exibir a complexidade da situação. Sobretudo como afeta os envolvidos e deságua – ou ricocheteia – em Benni.
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