Só vi agora, A Voz Suprema do Blues é mais que 'só' Chadwick e Viola Davis
Já deve ter visto, né?! E aí?!
Tem Chadwick Boseman, tem Viola Davis. Só de ver a dupla em cena, é uma ideia. A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey's Black Bottom). De 2020, pensei que seria um lance meio biografia. Não é bem assim.
Ambientado no fim dos Estados Unidos dos anos 20 – em região bem hostil aos afrodescendentes - o longa de pouco mais de hora e meia é dirigido por George C. Wolfe. Ele é quem também assina Rustin – do qual já escrevi umas groselhas. Quiser ler depois, clique aqui.
A maior parte do filme é nas dependências de um estúdio, onde Ma Rainey e banda são contratados para gravar um disco em um dia. Os caras dos instrumentos chegam antes no local e ficam em uma espécie de porão.
A sensação de confinamento é real. Assim como a tensão nos diálogos. Racismo, religião, violência entram na conversa do quarteto musical. Todos pretos.
As discussões acaloradas e com bons argumentos e sacadas não são “encheção de linguiça”, tampouco rasas. O filme é baseado em uma peça teatral, deste modo as falas e performances serem muito presentes.
Hora e a vez de Chadwick Boseman brilhar. Na pele do trompetista Levee, faz o músico que sonha em ter a própria banda. Talentoso, inconformado, genioso, o personagem é a mola que tensiona o todo. Sinceramente, nem sabia que ele estava no longa. Melhor assim. Mandou bem demais, dá show. Faz falta o ator que deixou este mundo aos 43, no mesmo ano do lançamento desta obra. Seu último filme, e rendeu prêmio de Melhor Ator em Cinema – Drama – do Globo de Ouro.
Viola Davis foi a motivação inicial para assistir. Dispensa apresentações. Certamente a Ma Rainey original – viveu entre 1886 e 1939 - aplaudiria sua interpretação. Com ela e Chadwick de trunfos, Wolfe meio que conduz dois núcleos durante a história.
Se Levee representa a energia inconsequente da juventude, a “mãe do blues” sabe muito bem o seu papel e o tamanho que representa na hora de tratar com os brancos. Pulso firme, mão de ferro, não se roga em evocar o “sabe com quem tá lidando?”.
O filme tem produção de Denzel Washington, com quem a baita atriz contracenou em Fences – Um Limite entre Nós (2016). Aliás, produção essa que também tem as digitais de August Wilson. Mais um longa pra lista...
A Voz Suprema do Blues engana quem espera um misto de musical com história. Tal como blues, parte de Ma Rainey para mostrar os conflitos de quem é de “cor”. Tanto aos olhos dos brancos, quanto quando olham para dentro, com os integrantes do Black Bottom.
É isso, falei demais já.
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