Literatura, pandemia, racismo, abandono, adolescência. E a dica é infantojuvenil

 

Topei aqui em casa com literatura infantojuvenil. Quem leu, gostou. Resolvi embarcar nessa.
Meu avô, os livros e eu ou como resistir em tempos incertos me surpreendeu.
Dentre outras coisas, tem bastante páginas a ver com o 20 de novembro (editado pois tava outubro, bola foraça). Muita consciência…
A primeira edição saiu em 2021. Menina Natália, 13 anos por aí, com pandemia de pano de fundo.
Em meio ao distanciamento social, boa parte das quase 180 páginas é o relacionamento dela com o seu avô paterno, João.
Ateu e bem chegado em astrologia, ele ensaia uma “viagem” por meio de chamadas de vídeo ou de áudio. Os destinos são sete obras conhecidas da literatura brasileira. Mas, focada sobretudo em quem escreveu. Sete nomes.
De leitura fácil, Camila Tardelli meio que divide o livro – saiu pela Editora do Brasil - por meio das apresentações das obras apresentadas pelo avô. Entre uma chamada e outra, Natália engata pensamentos recorrentes da sua fase. 
Muitos questionamentos e, às vezes, discussões familiares que muitos lares devem ter passados em 2020, 2021, 2022… bobear, até agora.
A adolescente passa pelos “grilos” da idade. Relacionamento, amizades, BV (não é da minha época, nem sei se ainda é dessa galera nova).
As situações com seu pai mexem mais comigo. Óbvio.
Castigo, bronca, momento “é preciso conversar”. Difícil não se reconhecer em ao menos uma passagem. No caso dele, a coisa se agrava pois trabalha em hospital. Com a Covid, ainda sem vacina, tenso. Meu, bater na tecla de novo, me traz um alívio quando humanizam o pai. Aftersun, Ainda Estou Aqui, agora esta obra… sorte a minha pegar uma vibe dessa. Conforta.
Outra coisa a pontuar é a dificuldade da Natália em compreender sua mãe, que há uns bons anos deixou a família e não voltou mais. No processo de tentar entender o abandono, todos que cercam a garota buscam entender a decisão. Sem crucificar, apontar o dedo, e, sim, tentar compreender a condição humana. Pessoas e os diferentes sonhos e jeitos de viver.
A forma de como o racismo entra e torna-se ponto importante da história é apropriada. Daí ter a ver com o 20 de novembro. Enfim, virou feriado aqui em Campão. Pois é, diz muito sobre o estado em que vivemos.
A autora lança a questão de maneira tão simples quanto uma conversa qualquer. Mas, cresce, indigna, e, didaticamente, mas não de forma aborrecida, instiga.
Advogado aposentado, o avô utiliza o canal aberto com a neta para levantar a histórica luta de classes. Se inicialmente, a impressão é a de um livro sobre encanações adolescentes, no meio da travessia as interrogações da protagonista se transformam em, porquê não, porquê sim, coisa de “gente grande”.
Com ilustrações de Silvia Amstalden, a autora acha um espaço para deixar o avô em saia justa ao notar a pouca presença de escritoras na lista top-7 de livros escolhidos para apresentar à neta.
Ia dizer que o livro é bem de boinha, uma ficção adequada para relembrar quanta gente boa o país tem culturalmente, neste caso, na literatura. E quanto artista é maltratado, mal lembrado. Alguns quase que somem da memória sem sequer ser sequela de Covid.
Eis que quando encerro a leitura, manteiga derretida, fiquei tocado.
Alguém disse ser impossível você ler tudo o que gostaria ao longo da vida. É muita coisa. Entretanto, vale a pena fazer uma curadoria e incluir alguns e algumas obras citadas nas páginas escritas por Camila Tardelli. Sinceridade constrangedora: li menos da metade das obras escolhidas pelo vovô da Natália.


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