Macário evidencia potencial de Campo Grande para cinema
Cartaz afixado na entrada do Glauce Rocha no dia da exibição Foto: Reprodução/Blog do Kishô |
O rolê aleatório da vez foi parar no cinema. Quer dizer, no Teatro Glauce Rocha. Assistir Macário. Curta-metragem de 25 minutos baseado em texto teatral de Álvares de Azevedo e empreitada encarada por resilientes apaixonados pela sétima arte.
Dirigido por Felipe Feitosa, o projeto tem apoio da Lei Paulo Gustavo e surgiu de dentro da faculdade em forma inicial de Trabalho de Conclusão de Curso na UFMS. Junto com Feitosa, a realização tem Aram Amorim, João Gabriel Pelosi e Esdras Dürks.
O curta foi rodado todo em Campo Grande. Aliás, em pleno mês de aniversário da cidade não haver ao menos uma programação audiovisual alusiva aos festejos de 125 anos dessa capital de quase um milhão de gente diz muita coisa. Desde a ausência de instalações bacanas para projetar produções, a quase invisibilidade porque passa a galera que curte de verdade cinema (e eu que já achava pouco a época do Cine Cultura na Barão, lá pelos fim dos anos 1990 e início de 2000), até a falta de interesse mesmo.
Após a exibição, impressão confirmada pela direção, Macário tem influência da época da Boca do Lixo, grosseiramente resumindo, trata-se da onda de filmes rodados sobretudo em zonas de prostituição, becos, underground, de São Paulo. Baixos orçamentos, muitas vezes figurantes e coadjuvantes eram cooptados de graça mesmo. E de tudo quanto é estilo, embora ficasse marcado pelos filmes de sexo. Sem preconceito, bora pesquisar que dá bom.
A obra de Azevedo foi transportada para Campo Grande. Palco de locação principal, bar de esquina nas cercanias do Mercado Municipal. O filme tem um quê de ambiente carregado, como avisaram antes da projeção, não é um filme experimental mas usaram experimentações.
Da Boca do Lixo, o filme mistura também influências noir, clássicos das antigas, A Dama do Cine Shangai (filme brazuca de 1987 dirigido por Guilherme de Almeida Prado), até Mulholand Drive (Cidade dos Sonhos, 2001), longa assinado por David Linch, esse eu recomendo.
O curta gira em torno de um estudante de artes visuais, que chega ao bar meio pistola com tudo. Lá pelas tantas dá de cara com sujeito misterioso que oferece uma bebida. Pretexto para o diálogo e a relação que norteia a produção.
Os atores mandam bem. Macário é interpretado por Leonardo de Castro, e o misterioso homem é vivido na pele de Adriano Chastel. As aparições das atrizes Vitória Evergin e Karen Centurion vão bem também. A parte musical também vai bem. A trilha sonora tem tudo a ver com a produção.
Na torcida para ganhar mais espaço para ser visto. Aliado a outras iniciativas de ao menos diminuir o marasmo cinematográfico em Campão.
De praxe, sem pretensão de analisar tal qual se fora crítico, Macário vale a pena. Meio terror, meio drama, experimentações. A régua tem de ser essa: as pessoas envolvidas fizeram na raça, naquela vibe de “não sabemos fazer direito, não temos verba a rodo, mas queremos fazer mesmo assim”. E, obra literária de mil oitocentos e bolinha não é fácil de processar. Porque amam cinema.
Durante o evento do domingo, o diretor relata das dificuldades de exibir seu filme em uma sala mais apropriada (apesar do louvável esforço, é literalmente nítida a sensação de que se fosse em lugar apropriado para este tipo de projeção, seria ainda melhor a bagaça).
Sem querer ser chato, já sendo, em termos de iniciativa privada, penso ser complicado a empresa ceder um horário que seja a uma produção oriunda da faculdade. Soma o fato desses multiplex serem gerenciados bem longe de Campo Grande.
Há ainda o crônico ranço anti-cinema nacional. Presente desde antes de eu nascer. Ironicamente, cada vez mais o público prefere a opção filmes dublados.
Durante a sessão perguntas pós-exibição, a equipe disse muitas coisas interessante. Entre elas, a de que você pode ter influências de fora – no caso a citada foi a indústria estadunidense – e adaptar para virar uma coisa nossa. Nacional, campo-grandense. Tal como Macário, de Álvares de Azevedo. Se passa em São Paulo, mas fora transplantada para o centro de Campão.
Na questão sétima arte local, que ressurja com tomadas firmes e duradouras. Seja mais vida, sem necessidade de ter de tratar com a morte.
É isso.
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