Só vi agora, O Autor manipula coisa séria com comédia


A dica da vez foi lançada no fim de 2017 na Espanha. O Autor é um misto de comédia e drama. Dirigido por Manuel Martín Cuenca, ouso dizer que tem um quê de Woody Allen (não, o diretor não aparece no longa de quase duas horas, eu acho).
A lembrança deve ser pelas presepadas do personagem principal, e por algumas tiradas sarcásticas em certos diálogos. Melhor findar as comparações e evitar interpretações erradas.
A produção que está na Netflix rendeu prêmio Goya de melhor ator para Javier Gutiérrez. O espanhol, hoje com 53 anos, faz Álvaro. Homem que trabalha burocraticamente em um cartório e nutre a ambição de ser um escritor de sucesso. Coisa que sua mulher, Amanda, consegue ao emplacar um best-seller.
Logo no começo, a relação dos dois vai pro brejo. Álvaro não consegue esconder a frustração com o sucesso de Amanda, interpretada por Maria León, 39, e, ainda por cima, rola outras coisas que fazem ele sair de casa.
Vai para um apartamento e lá tem início a espinha dorsal do longa ambientado em Andaluzia/Sevilha. Podia ser Nova York (brincadeirinha).
O edifício residencial dá elementos para Álvaro, “um aspirante a escritor busca inspiração para seu livro. E manipula a vida de seus vizinhos com o intuito de escrever sobre eles.” As aspas são da sinopse do Netflix.
De fato, O Autor tem como pilar principal, a manipulação. Seja por Álvaro, por seu mentor (ele se aconselha com um professor que, pelo que entendi, ensina o pessoal a escrever livros), ou pelas pessoas que habitam o prédio.

Álvaro e dona Lola - Divulgação
As personagens femininas se sobressaem. A zeladora, dona Lola, quase rouba a cena. A interpretação valeu a Adelfa Calvo, 62, a premiação de melhor atriz coadjuvante no Goya. Ela se envolve com Álvaro e, sem querer querendo, ajuda o projeto de escritor a se aproximar de quem mora por lá, e assim, fornecer material inspirador para o livro arquitetado pelo novo morador.
Como por exemplo um casal de mexicanos. Interessante que la pareja é do México mesmo. Tenoch Huerta, 43, é o marido Enrico, casado com Irene. Quem faz o papel dela é Adriana Paz, que também manda muito bem. Vizinha do apartamento de Álvaro, a dupla é a que mais se envolve com o personagem principal, junto com dona Lola.
Mexicana Adriana Paz interpreta
a mexicana Irene - Divulgação
Bisbilhotar, especular, e, por vezes, forçar situações viram molas mestras para que Álvaro supere seu bloqueio criativo ou, talvez, a falta de talento? Se não assistiu terá de ver para tirar suas conclusões.
No meio disso, Amanda aparece de vez em quando para “sabotar” o esforço do aspirante a Ernest Hemingway e Camilo José Cela. O filme tem com base o romance de Javier Cercas.
Sua mulher e seu professor de literatura, Juan, personagem de Antonio de la Torre, 56, resultam em uma insólita união crítica diante dos esboços literários de Álvaro.
A direção de Manuel Cuenca está longe de malabarismos. Dá pistas durante o filme, mantém sempre os pés no chão, usa o humor em medida certa, em algumas cenas cita rapidamente temas como imigração, fascismo, luta de classes, sem forçar no contexto do filme.
O desfecho, de repente, poderia ser umas cenas antes do Fin. Concorda?
O Autor é divertido ao mesmo tempo faz pensar até que ponto pode-se ir para alcançar um sonho, um objetivo, e de como se corre o risco de ser manipulado ao crer que está tudo sob controle. Nada está sob controle.



- Link de um texto interessante sobre O Autor
“O filme espanhol que é um pequeno diamante perdido na biblioteca da Netflix”

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