A Dama do Rasqueado é Delinha, e de muito mais

 

Reprodução/Papo de Cinema

Opa, beleza?!


Deve acontecer contigo também. Ou, não.

Às vezes, de um assunto vem tantos outros, tampouco sei por onde começar. Embola tudo na mente, um quer entrar na frente do outro, confusão de pensamentos.


É o caso de A Dama do Rasqueado. Quase uma praxe, só vi agora.

Engraçado como uma coisa puxa a outra. Tempo atrás tava caçando umas músicas do Acaba no Spotify, e fui me meter em Antigo Aposento. Era Delinha em participação do álbum comemorativo aos 50 anos do Grupo.


A faixa tá em uma playlist, volte e meia a escuto. Numa dessas ouvidas, prestei atenção um pouco mais na letra. Cara, é triste esse som, pensei. Ou viajei mesmo, sei lá.
Uns trechos como exemplos:


“Fui fazer a serenata invés de cantar chorei”

“Quem me dera se voltasse pelo menos aos 15 anos

Sofri tantos desenganos que nem gosto de lembrar

Perdi minha mocidade após tanto sofrimento

Meu antigo aposento regressei pra descansar”


Coisa rápida - No começo dos anos 2000, creio que entre 2004, 2005, falei com ela umas duas ou três vezes, por telefone. Trabalhava também em um site. Geralmente, Delinha respondia de maneira bem formal. Ao menos na época, só se irritava quando a pergunta girava sobre Délio.

Era isso, meio nada a ver, né. Segue o baile.


Passou umas semanas e veio o documentário. E, mais para frente, o lance de homenagear o Bairro Amambaí, um dos mais antigos de Campão, onde ela viveu boa parte da sua vida. Nasci naquela região. Sério. Fique por lá até uns 13 anos, até o início da década de 90.


O papo aqui é Delinha. Foco.

Aliás, é o documentário. Assisti sabadão agora. Preferi não ler nada sobre a produção de pouco mais de uma hora e vinte minutos. Se engana quem achar que é “só” sobre Delanira Pereira Gonçalves, falecida em junho do ano passado.


A direção de Marinete Pinheiro exala empatia, um cuidado ao expor a baita artista nascida no distrito de Vista Alegre, mas campo-grandense de tudo.

O zelo na direção vai desde o valor documental propriamente dito – entrevistas, imagens de arquivos, apresentações – até a escolha da fonte e a cor usadas nos caracteres. Gostei bastante.


Pano rápido parte II – Lá no Drugstore Kishô entrevistei a diretora. Março de 2021, o título é

Para Marinete Pinheiro, Dia da Mulher é mais que carinho, manifesto.

Tiver interesse, clique aqui.


Extrapolar a veia musical e botar na roda a figura da mulher Delinha eleva ainda mais o trabalho da diretora. Deixa á mostra o machismo estrutural, cultural, no caminho de Delinha.

No compilado de depoimentos da ícone da música sul-mato-grossense, estão as lembranças da carga doméstica, das imposições do pai, das contrariedades acerca di Délio.


O lamento quase sem perceber de ter poucas mulheres em cima do palco. Tinha de fazer música e cantar com a cabeça de um homem, ao meu lado só tinha músico homem. Para pensar uma letra, tinha de ser para o homem cantar. (Mas) Quando fazia letra sem sexo (gênero) era a melhor coisa.


O trecho em que seu filho – já adulto - lembra da mãe zelosa, que não dormia até ele chegar, e, no outro dia deixava a roupa lavada, é carregada de interpretações. Escolha a sua.


Calma, A Dama do Rasqueado, como escrevi no início, é mais do que isso. Entrevistas com pesquisadores e pesquisadoras servem de introdução a leigos – para variar, me incluo nessa – o contexto e a história do rasqueado.


Nas prosas, lembranças de gente que conviveu com Delinha. Não sei se era a ideia, mas me soou como homenagem ao pessoal das “antigas” como Maciel Corrêa, Aurélio Miranda, Tostão, e Paulo Simões. Este último, retratado como uma das peças fundamentais para o reconhecimento do “Casal de Onças”.


A carreira dela, da dupĺa, é contada de forma leve, por vezes divertida, abastecida de informações na medida certa. Não cansa. Mesmo com as pertinentes observações das dificuldades da mulher triunfar nesta seara, o documentário passa longe de adquirir um ar sisudo, pesado.


Mostra uma Delinha ciente de si. Falava com propriedade, direta. De rodeios apenas a saia, marca registrada, que também tem o seu porquê. No estúdio, sabia o que fazia, dominava os processos, longe de ser apenas uma bela voz. Craque. Como apontado à certa altura da produção, nível Inezita Barroso.


As participações, seja retratadas em instantes passados ou por meio dos depoimentos dados ao doc são provas do quão importante foi resgatar Delinha. Tem para todos os gostos.


Deu, né. Desnecessário gastar mais linhas.

Independente se curte ou não o estilo – eu mesmo estou a lejos de ser bambambam nisso –o filme, assim como o rasqueado, tem balas suficientes para transcender as fronteiras. E, perdão antecipado pela interferência de gosto duvidoso - sem precisar de um 38 niquelado.




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