Futebol e seu insensato destino

Eis que chegamos ao fim de semana derradeiro para os estaduais. E, pelo menos até hoje, o assunto é a Libertadores e seus desdobramentos. Seja pelo apelo emocional-visual rubro-negro do Maracanã do time carinhosamente apelidado Clube de Regatas do Guerrero. Ou, do outro lado da moeda, a demissão do Eduardo Desabafo em Entrevistas do elenco capitaneado por Felipe Mello.

Nos dois casos, incrível como não me acostumo com essa gangorra denominada futebol. Vício difícil de largar.
Semana passada, o Flamengo era tido como time sem alma, que jogava bem como nunca e perdia como sempre. Dias depois, como comentei durante o jogo lá em casa: “Quando o Márcio Araújo é considerado o melhor da equipe fico com medo”. Final feliz no Maracanã, com heróis improváveis. Trauco, Rodiney e o já citado Eme A. O camisa 9, este não sabe brincar. É de uma regularidade impressionante. Do mesmo jeito que serve ao Rubro-Negro, se dá ao (des)prazer de perder gols.

O êxito flamenguista diante dos salesianos chilenos fez muitos especialistas apontarem o Mengo como o melhor do Brasil hoje em dia. “Como assim?! ele pode ser eliminado na próxima rodada!”, bradou uma voz dissonante em meio à euforia que contamina a torcida na proporção que descontamina em caso de derrota.

Este é o caso do Verdão. Semana passada era um elenco ponta firme. Que foi no Uruguai, virou o confronto, lutou dentro e fora de campo e tornou-se favorito para conquistar a América. Seu técnico, após a batalha no estádio que leva o nome de Campeão do Século,em vez de exaltar a dureza da peleja em território inóspito e que tomou proporções que Mujica se envergonharia caso presidente ainda fosse, o que fez? Aproveitou as lentes sul-americanas para esbravejar contra os “do contra”. O que deixou os jornalistas estrangeiros presentes na coletiva sem eira nem beira –tipo trabalhador brasileiro. 

“A culpa é da imprensa! Quem é a fonte? Aqui não tem elenco rachado, não! Nos Estados Unidos, por publicarem notícias mentirosas, o Trump foi eleito!”. Sério, foi ele quem disse. Inclusive, o comentário abalizado sobre política internacional. Podia aproveitar e dizer em quem votou no Brasil, se apoia as reformas, se sabe em quem os seus patrões votaram. 

“Falem de futebol dentro de campo, menos fofoca!”. É, você deve ter visto pelo menos um pouquinho da entrevista dele. Estava descontrolado. Mas, depois da vitória que embriaga, ganhou moral. Até esta semana. A “fofoca” que ele estava para cair era realmente delirante. Errou a previsão em intermináveis sete dias. 

Pouco importa se o Alviverde ainda é líder mesmo depois do jogo ruim na Bolívia. Que acabara de completar apenas quatro meses de trabalho na academia. De defender os seus superiores em quem confiava a ponto de ofender aqueles que talvez queriam é que ele abrisse os olhos. Taticamente e dentro do clube. 

É, amigos e inimigos, futebol é assim. Em um mundo cada vez mais imediatista e competitivo, aqueles que ainda não tem do nome seu status, torna-se mais imprevisível que cabeças supremas e federais. O time top da Liberta em uma partida virou um amontoado de jogadores. De um clube rico que não soube gastar bem na hora de trazer um comandante à altura.

Pois bem. Tudo começou a desandar na desagradável derrota para a Ponte Preta. Pensar que os estaduais nada valem. Realmente, título local talvez seja encarado como mais inútil que nota promissória em regiões que passam por Série A, Copa do Brasil, Brasileirão, e Libertadores. Mas, perde no final e verás que teu caminho corre risco de ser nada promissor. 

Estaduais esses que terminam amanhã. Para festa de muitos, alívio para alguns e tristeza para outros. 
Abraço.

*Texto meu publicado na edição de hoje (6) do jornal O Estado MS

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