Esporte no Brasil é igual cobertor curto

Você já deve ter ouvido aquela expressão “estica de um lado, puxa do outro”, ou “cobertor curto é assim, se tampa a cabeça, descobre os pés”. Pois, é. O governo federal faz coisa mais ou menos parecida com o apoio ao esporte brasileiro.

Nesta semana, saiu a primeira lista dos atletas contemplados com a Bolsa Pódio para Tóquio-2020. São 183 nomes, entre esportes olímpicos e paraolímpicos. Segundo matéria da Folha de S. Paulo, com base no que foi divulgado pelo Ministério do Esporte, neste ciclo serão investidos quase R$ 24 milhões. Por enquanto, serão 91 talentos olímpicos e 72 no paradesporto. As bolsas mensais nesta categoria da Bolsa Atleta variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil.
Puxa, que bacana. Caiu como uma luva, não?! Menos, bem menos.

Ao mesmo tempo que o poder público federal acalenta em parte as poucas promessas do país que podem brilhar daqui a três anos, o esporte amador em geral vê as torneiras estatais fecharem.
Nos desportos aquáticos, o patrocínio dos Correios retrocedeu depois da Rio-2016, e ficou mais baixo do que o Cantareira. Agora, o valor do apoio é aproximadamente o mesmo de 2002. Boxe, esgrima, levantamento de peso, remo, taekwondo e judô perderam o apoio da Petrobras. A Caixa reduziu os recursos para o atletismo e ginástica, e não renovou com o ciclismo e lutas olímpicas.
Ou seja, o cobertor está é mais por um fio. Previsão de várias modalidades encarar um frio desgraçado sem patrocínio para esquentar suas estruturas.

E, por onde andam as grandes empresas? Findou o Jogos do Rio, acabou o amor. Bradesco, Nike e Nissan deixaram de incentivar o esporte por meio do Comitê Olímpico Brasileiro. Tudo bem, pode argumentar que o chefão do COB, o Nuzman não é lá muito confiável, que cartolas de várias modalidades estão enrolados em fraudes que envolveram as suas confederações, e por aí vai.

Mas, reconheçamos, o pessoal do poder privado no Brasil não é muito de dar uma força ao desporto nacional. Só acompanhar aí o noticiário. Repare o quanto as grandes empresas, indústrias, injetam em campanhas políticas, mandam um por fora para ter vantagens na hora de fazer acontecer os seus negócios. Ou, alguém duvida que se eles pedissem uma faxininha de leve nas federações, a coisa não entraria nos eixos?
Esporte é uma coisa saudável, limpa, rende uma imagem bacana. Só olhar fora do país e assistir aos garotos propagandas mundo afora. Cultura esportiva e visão mercadológica que faz o poder privado dar e receber.

No Brasil, tem empresas grandes que sonegam imposto (depois põe a culpa do rombo no trabalhador que fica velhinho), e conseguem se livrar de multa milionária. Ou ganha licitação, cobra para deixar a gente passar, mas não cumpre o prometido. E, fica por aí mesmo.

Resumo: passa ano e o esporte brasileiro segue em sua sofrência. Refém da boa vontade do poder público, visto de lado pelo privado, e, porque não, como algo secundário para a maioria. As pesquisas estão aí: quase metade da população é sedentária e sofre com excesso de peso. Levar a sério o esporte reduziria o número e aliviaria as contas de todo mundo (governo, patrão, trabalhador) na área da saúde.

Deixa para lá, o jeito é esperar até 2020 para a gente ver aquelas matérias de sempre: “porquê país tal é fenômeno no esporte?”; “cinco razões que fazem a prática esportiva ser uma realidade desde criança lá”; “foco em vários esportes é a chave do sucesso em potência olímpica”. Enquanto aqui, as mesmas lamentações de sempre. Ah, e certeza, a chatice do raso argumento do “legado”. Parente da chatice do “7 a 1”.
Diretas, já.
Abraço

*Texto meu publicado na edição de hoje (27) do jornal O Estado MS

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