Vou escrever pra cachorro. Pro meu
Véi, eita diazinhos penosos esses.
Eis que sexta de noite, um dos meus dois dogs foi-se deste mundo.
Esse negócio de perda é tenso. Eu sei, é “só” um cachorro, pra quê tanto drama, e,pipipipopopó.
F...-se. Vou desabafar assim mesmo. Este é um dos poucos espaços que posso chamar de meu. E, sim, vou falar do Negão. Um dos apelidos do Calvin. Mais preto que branco. Um tomba lata, que, junto com o irmão, Alvin, cabiam dentro de uma caixa de sapato quando nos foram doados pelo padrinho da filhota.
Faz mais de dez anos. Foram encontrados abandonados, desnutridos e, mesmo assim, diz a história, o “Pretinho” ainda tinha força pra rosnar quem ousava encostar a mão no irmãozinho.
O Calvin, a gente costumava falar que era um cachorro pleno. Tinha o ritmo dele. Com exceção de um belo osso de costela ou de porco mesmo, não exibia a pressa característica da afobação dos cães na hora do almoço nem da janta.
Por outro lado, ás vezes latia para o nada. Ou só ele enxergava. Confesso, tinha ocasião que enchia o saco, parecia que esperava o filme começar na sala para ele começar a conversar com os parças da vizinhança. Confesso, o silêncio do fim de semana gritou por ele.
Ao mesmo tempo em que protegia geral da casa. Sinto pelos ousados gatos, pássaros e ratos que tentaram se aventurar. Para este que escreve, cabia a função “nós limpamos”. E, dó dos intrusos.
Jamais me mordeu. Nem quando tinha de separar ele do brother, ou quando tentava livrar os outros bichinhos da sanha territorialista dele. Aliás, nenhum dos dois. Sinto orgulho disso. Longe de serem ensinados – até hoje só consigo fazer sentar e, olhe lá – tinham exata noção de quem era quem.
Esse mesmo “doido” sabia fazer cara de pidão e, se marcasse bobeira na garagem lá vinha ele com a patinha pedindo um cafuné. Das vezes que fazia alguma arte digna de levar uma bronca, o dog apelava: deitava de costas para coçar a barriguinha.
Muitas lembranças à parte, creio que a que mais me pega é a companhia mesmo. Cachorro não tem tempo ruim, né. Você tá alegre, de cara, bravo, triste, deprê. E ele vai, de mansinho ou não, e fica do seu lado.
Exagero talvez, mas ele e o mano foram vitais nesses últimos anos pra minha saúde mental e emocional. Certeza, testemunhas mor das minhas noias e dos pequenos rios que algumas vezes se formaram em meu rosto. Me ajudaram pacas. Só de estarem ali. Presentes.
Hoje, segundona, vão fazer três dias do comunicado e dois que me despedi dele. O seu pratinho tá no mesmo lugar, no quintal. Criando coragem para tirar de lá. Sei lá, devo estar em um junto e misturado de luto, negação, culpa, aceitação.
Eu sei, é “só um cachorro”. Mas, eu sei, vai ser meu parça pra sempre. Calvin, Cof Cof, Negão, Dog, Doguinho, Mala, o Pleno, o que “encarnava a música que tava tocando”, Queridão.
Brigadão por jamais ter desistido de mim.
É isso. Se você foi sem noção de ler isso, valeu mesmo pela consideração.
Abraço.


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