Diretor sueco, filmado na Turquia, e gênero no meio. Caminhos Cruzados é a dica
O filme foi lançado ano passado e tem na direção o sueco Levan Akin. Parece que ficou conhecido com E Então Nós Dançamos (2019), que não assisti mas fiquei curioso.
Outro mote interessante de Caminhos Cruzados, sobretudo para a nossa bolha ocidental ao extremo, é a de que a história se desenrola em Istambul, Turquia. Região que tem geograficamente um pé na Europa e outra na Ásia.
Diretor sueco, locações na Turquia, e, o diferencial maior, o enfoque trans. O ponto de partida do drama é uma professora aposentada que mora na Geórgia, cruza a fronteira para encontrar sua sobrinha trans, que faz uma cara vazou de casa e, ao que indica, foi tentar a sorte em Istambul.
Antes de chegar na Turquia, Lia bate na porta da casa em que vive a família de Achi, jovem que aparentemente não tá muito a fim de trabalhar e tal. Ele encasqueta e enche o saco da professora até convencê-la a levá-lo. Para isso, afirma ter conhecido a tal sobrinha e tem até o endereço dela em terras turcas.
Em Istambul, a dupla percorre vários lugares e vivem diversas situações na busca pela sobrinha Tekla. A relação entre Lia e Achi é a aposta principal de Levan Akin prender quem tá do outro lado da tela. As interpretações tanto de Mzia Arabuli e Lucas Kankava sobem o nível de forma gradativa.
Isso aliada à fotografia da qual é retratada a região. Ao que indica, o diretor curte a maior cidade da Turquia.
Caminhos Cruzados tem enfoque nos desconfortos da sociedade de forma mais sutil. Meninos e meninas perambulam na ruas sem perspectivas decentes, certas de que suas mães voltarão para encontrá-las.
A questão do abandono pelos pais é refletida em Lia. Encontrar a sobrinha trans foi o desejo da mãe – sua irmã – antes de falecer.
Grande atuação de Mzia. Tem uma sequência – em que ela vai a um banheiro de um bar e capricha no batom – que me lembrou Fernanda Montenegro em Central do Brasil. De certo modo, os filmes têm alguma semelhança. Ou, viajei mesmo, sei lá.
Já o jovem meio sem noção, Achi, inicialmente parece mais interessado em curtir um pouco as baladas da cidade. E, sobretudo, não passar fome. Kankava manda bem no papel daquele tipo de cara ou amigo que faz cagadas e você vê que foi sem segundas intenções.
Ele é responsável, digamos, pela parte cômica. Há alguns diálogos entre ele e a professora aposentada que dão uma quebrada. Meio que uma mini-mini novelinha.
Crossing transparece um lado Turquia bem menos Erdogan. Neste ponto entra a peça que fecha o trio principal da história. Evrim - Denis Dumanji - é uma trans que ajuda como pode as demais pessoas trans de sua região. Tipo, “ainda tem gente boa nesse mundo”, saca?
De quebra, é meio que anjo da guarda da criançada de rua. A atriz georgiana manda bem e, assim como Mzia e Kankaya, talvez seja um diferencial que pesa positivamente para o filme se destacar da prateleira Apenas Mais Um Melodrama.
Evrim, Lia e Achi possuem personalidades distintas, e, a ideia, creio, da direção do longa, é misturar os caminhos das três pessoas, e, com isso, retratar o quão difícil às vezes são as relações mãe, pai, e filhos. Quando se é trans então – caso da sobrinha e de Evrim – a ausência ou o conflito familiar é uma barra a mais.
O preconceito contra a comunidade trans é mostrada de um jeito sem dar na cara, sem frases diretas. Tanto em família, como na delegacia, hospital, a má vontade, o preconceito, é revelado em forma de burocracia. Ou, em ao menos uma situação, ironia/cinismo.
A meu ver, a intenção principal de Levan Akin é evitar que Crossing seja visto apenas como crítica ao machismo e, por tabela, como a sociedade – no caso a turca – lida com as questões de gêneros. Para contrapor, vai de situações felizes – balada, casamento – e acerta em dança, arte, cantorias como armas diante do peso moralista e mau humorado conservadorismo.
Na parte família, Caminhos Cruzados também é sobre culpa, arrependimento, ausência. Da perda de tempo com a preocupação de que “os outros vão pensar”.
De zero a dez, daria de repente um seis, seis e meio. Talvez se eu trocar ideia com mais gente, melhore essa impressão. Na real, uma das coisas que me animou a assistir o longa foi a alta avaliação das pessoas na plataforma (nota 9,2).
De qualquer modo, saiu acima da média, né.
É isso. Qualquer coisa, diz aí.
Curtiu?
Entre em contato comigo. Pode ser para trocar ideias ou apoiar de alguma forma.
Se achar que vale, faz um PIX com a quantia que considera justa. A chave é o e-mail:
blogdokisho2@gmail.com
Me ajuda e me anima a seguir. Em vários sentidos.
Brigadão.
Abraço
Nas redes, estou em
Instagram – https://www.instagram.com/
X/Twitter - @KishoShakihama
Threads – lucianokisho77
Blue Sky - https://bsky.app/profile/
Facebook – Luciano Shakihama



Comentários
Postar um comentário