Vale rever tanta gente boa na Noite que Mudou o Pop
Sinceridade, tinha ressalvas em assistir A Noite que Mudou o Pop, em inglês, The Greatest Night in Pop. Quando a música/campanha foi lançada, em 1985, era apenas um moleque de oito anos e como boa parte do planeta, sabia quem era Michael Jackson. Aliás, tenho o vinil do Thriller, e se pá, também o do We Are The World (tenho de dar uma procurada).
As ressalvas sobre USA for Africa eram devidas à banalização sofrida pela canção composta pela dupla Richie e MJ. Assim, certamente que você já escutou a música, refrão virou um chiclete gigante, nível Give Peace a Chance, do Lennon, por exemplo.
No Brasil, até mote de campanha antifumo. Lembra do “Me arde o Ôi... Me arde o Ouvido”?, lá dos anos 2010. Vou deixar o link aí se você não assistiu.
USA for África também me causou um certo ranço pois na minha cabeça, anos e anos mais tarde, me soou oportunista. Do tipo, “até parece que só essa iniciativa vai resolver os problemas da fome por lá”.
Independente disso, seja por nostalgia, para reafirmar ou mudar sua visão, ou, se tu é bem mais jovem, para conhecer um pouco do rolê, vale dar um confere no documentário de pouco mais de hora e meia dirigido pelo vietnamita Bao Nguyen.
Pausa para momento sinopse geralmente basicona da Netflix:
“Em uma noite de janeiro de 1985, as maiores estrelas da música se reuniram para gravar "We Are the World". Este documentário mostra os bastidores desse evento histórico.”
Por bom senso, vou deixar de ater a detalhes técnicos, avaliar produção/direção/e tal. Pesquise ou consulte fontes de sua confiança. Já escreveram e falaram muita coisa, com propriedade, do longa que, antes de desembarcar no streaming, teve uma première no Festival Sundance, em 19 de janeiro.
O filme tem Lionel Richie como personagem central. É ele quem relata como surgiu a ideia, e daí por diante guia o caminho do documentário. Hoje me parece muito difícil juntar tanta estrelas – e boas – em curto espaço de tempo, assim como todo o processo. Isso, no século passado.
Imagina, 45 nomes de peso da música pop em um único estúdio, e uma noite para gravar a bagaça.
Só para refrescar a memória, era gente muito muito, mesmo. Bruce Springsteen, Tina Turner, Ray Charles, Cyndi Lauper, Stevie Wonder, Diana Ross, Bob Dylan, Willie Nelson, Dione Warwick, e por aí vai.
Ajuda luxuosa do músico, ator, produtor e ativista Harry Belafonte. Para por ordem nessa constelação, Quincy Jones. “Ruim”, né?!
Partes do documentário mostram tentativas de Ritchie e cia de convencer o Prince a participar da ação. Madonna, nem tanto… Há mais instantes menos glamourosos, o que valoriza o longa.
Sim, é uma homenagem, lembrança à noite histórica, só que revela bastidores de um Dylan se sentindo um corpo estranho na multidão, Al Jarreau meio mala, meio de pileque, outro que foi embora durante a gravação.
No meio disso tudo, os organizadores, sobretudo Lionel Ritchie, no papel de não deixar o desânimo, o mau humor, o cansaço, sabotar a ação. “Deixar o ego do lado de fora”, dizia o aviso escrito por Quincy Jones, pregado na entrada do estúdio.
A Noite que Mudou o Pop tem depoimentos de Springsteen (topou participar mesmo depois de uma excursão desgastante), um cinegrafista da época (vivenciou de perto o que milhões de fãs certamente pagariam muito por seu lugar) , entre outros.
Divertida e leve foi a entrevista com Huey, da banda Huey Lewis and the News. Cuja primeira participação na música era depois da entrada de Michael Jackson. Só isso.
Se é difícil recordar do Huey, é do seu grupo a música The Power of Love, que acompanha o clássico De Volta para o Futuro.
Stevie Wonder, Ray Charles e Lauper também propiciam momentos bacanas no documentário. Pensar que uma pá de artistas/celebridades virou a noite cujo esforço resultou em somente uma música – o clipe de We Are The World tem seis, quase sete minutos – é motivo para rever minha opinião.
Para a maioria – ou todos e todas, de repente - fazer parte disso, no contexto da época, estava longe de ser necessário para suas carreiras.
Pode parecer piegas, ou que estou influenciado agora - se tiver, que seja - a ideia nascida com Lionel Ritchie e MJ merece entrar para a história.
Longe de resolver a crise humanitária que assola o continente berço da humanidade, os mais de 40 cantores e cantoras deixaram as desculpas de lado e, pelo menos por um dia, fizeram algo concreto para ajudar.
Depois de uns 30 anos, revi o clipe da música, antes de começar a digitar por aqui. Agora mais velho, e após o documentário, arrepiei. Pois é…entendi melhor o porquê do inusitado sinal de joinha do Lionel Ritchie na parte final da canção filmada.
É isso, se interessou, assiste lá.
- Ah, peguei umas informações deste link, da .tracklist
“A Noite que Mudou o Pop”: conheça o documentário de “We Are the World”
https://tracklist.com.br/a-
- Deixo aqui também o link ao clip Me arde o Ôi... Me arde o Ouvido
https://www.youtube.com/watch?
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