Se dizem ‘bom é o que vem de fora’, por que a rejeição aos técnicos gringos?

Publicado na edição de sábado (1) do jornal O Estado MS

Nós, brasileiros, somos um povo esquisito. Adoramos exaltar como as coisas funcionam no exterior. Como na Europa, nos States, no Japão, ninguém tenta levar vantagem, que o povo é ordeiro, que o ladrão, o corrupto, enfim, quem faz coisa errada vai preso. Vai ver, nem são humanos. Evoluídos Sapiens. Ah, mas nem um cafezinho?!

Já disse o saudoso jornalista João Saldanha, vai ver a Scotland Yard ficou famosa por prender só britânico gente boa, de certo. Que no governo Bush, os yankees atacaram o Iraque e até hoje não provaram a existência de armas químicas. E, até no incensado Japão, desculpe aí colônia, o orçamento para as obras no estádio para as olimpíadas de Tóquio, em 2020, pulou de R$ 2 bilhões para R$ 6 bilhões.

“Ah, mas eles têm dinheiro sobrando”, sério, ouvi isso. Certo, há justificativa para tudo. O que é bom vem de fora é um mantra deste povo e não é de hoje e, sei lá, mudar ele requer muito mais do que palavras de (d)efeito.

Momento “e o que tem isso a ver com esporte?” Posto isso, porque não radicalizar e calçar as sandálias da humildade de uma vez no futebol? O técnico da seleção de basquete é argentino, Ruben Magnano. O handebol feminino, campeão mundial e pan-americano, tem o dinamarquês brilhante Morten Soubak. O do masculino é o espanhol Jordi Ribera.

Isto para falar só nos conhecidos. Tem gringo na ginástica, no pólo aquático, e os resultados são animadores. Se isto vai mudar depois da Olimpíada de 2016, no Rio, é outra história. Mas, que pelo menos o intercâmbio vale a pena, já é fato.

Quando era “aborrescente” e treinava beisebol aqui em Campo Grande, chegou um técnico cubano. Na verdade, o “seu Larry” veio em uma leva de treinadores vindos da ilha de Fidel para intercâmbio e treinar equipes brasileiras. Sinceramente, não me dei bem com ele. Mas, reconheço que o estilo, o método e o jeito de enxergar o esporte dos professores cubanos ajudaram muito na evolução do esporte em nível nacional. O fato de cada vez mais, jogadores terem chance nos Estados Unidos, acredito, tem parte do êxito proporcionado pelos cubanos. Pena, que o que os treinadores ganhavam de salário, a maior fatia era destinada aos cofres do governo caribenho. Se isto vai mudar ou mudou já é outra história.

“Ah, mas o futebol é diferente”. Por quê? Perdemos o Mundial, a Copa América, Libertadores, o respeito (vascaínos, longe de ser uma indireta, hein). Já que este povo arrogante desta terra que se diz abençoado por deus gosta do que vem de fora... Why not? Vamos escutar o que os de fora têm a dizer. Hay que aprender pero, sin perder la identidad, o jeito brasileiro. No bom sentido.

Assim como no esporte, o Estado vai mal na Olimpíada. De Matemática 

Há uns dez dias li a notícia de que nove estudantes de Mato Grosso do Sul foram homenageados no Rio de Janeiro pelo desempenho na Olimpíada nacional de Matemática. À primeira vista é até legal. Parabéns aos garotos, uma pena que notícia boa não é literalmente visto com bons olhos. Pena maior é fazer algumas contas e saber como estamos ensinando mal.

Na capital carioca, foram bravos nove alunos sul-matogrossenses premiados. Em um universo de 501. Ou, salvo engano, o Mato Grosso...do Sul!, quase chega a 2% do total dos contemplados. Paraná e Rio de Janeiro, por exemplo, tiveram mais de 40 premiados cada. Quase cinco vezes mais. Vai ver, esta também é a diferença do nosso sofrido esporte para os “grandes” centros. Será?
Abraços

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