Excepcionalmente reservado ao paradesporto
*Texto publicado na edição de sábado (15) do jornal O Estado de MS
Antes de mais tarde do que
muito tarde, parabéns à Michele Ferreira e Yeltsin Jacques. A primeira,
bicampeã dos Jogos Parapan-Americanos no judô, e o segundo, ouro no atletismo,
medalha conquistada durante a semana na pista de Toronto, no Canadá. No fim de
semana, teremos mais pódio sul-mato-grossense com os cinco jogadores que
integram a seleção de futebol de 7. Opa, quase esqueci da Rosenei Herrera,
bronze no arremesso de peso, e da Silvania Oliveira, ouro no salto em
distância.
Se no esporte “normal” as
dificuldades são imensas, no paradesporto as coisas também estão longe de serem
fáceis. Estendo a admiração a todos que, de alguma forma, fazem algo
paraolímpico. Sei que é o tipo de coisa que não dá ibope. Mas, ás vezes, é
preciso se desligar dessa neurose de audiência, de informar só o que,
certamente, agradará o leitor, o torcedor. Mesmo que seja em datas ocasionais,
como o Parapan, as Paraolimpíadas. Ou, por isso mesmo, por ser eventos de gente
grande merecem umas linhas, imagens, curtidas, compartilhadas e de atenção.
Atenção, longe, mas muito
longe de confundir isto com “dó-zinha” . Gente acha bonitinho o esforço, a
superação do para-atleta, e, caso não obtenha sucesso dispara um “tudo bem, já
é um vencedor”. Sei lá, sou fã deste tipo de piedade não.
Como se o competidor, que
disputa a prova para ser o melhor entre os melhores que possui a mesma
deficiência, fosse desprovido daquele sentimento de frustração quando o
resultado não vem. Para os mais leigos do que este que vos escreve, sim, existe
doping também no esporte paraolímpico.
Certa vez, há uns pares de
anos, debati com o então chefe de redação sobre uma matéria que abordava os
preparativos de uma atleta, que possui paralisia cerebral, em Campo Grande, que
disputaria uma competição nacional. A foto ilustrava a paradesportista em
sessão de musculação. No dia seguinte, fui questionado sobre a imagem. A
crítica foi a de que a imagem não “mostrava” que a para-atleta era deficiente.
Defendi ao dizer que a ideia era essa, por acreditar que deve ser até chato
para eles serem (re) tratados ou vistos como diferentes, ou “coitadinhos”. E,
você, o que acha? Seja como for, é discutível, hein?!
Sobre Yeltsin, Michele,
Rosenei e tantos outros, algo em comum, queira eu, queira você, ou não, o fato
é que a estrutura ruim e a má preparação para seguir no paradesporto é a mesma
dos demais esportistas. Pelo menos em Campo Grande, pista de atletismo para
merecer esta denominação inexiste, nos tatames destinados aos deficientes
visuais a falta de condições é quase um ippon no ânimo dos judocas. E, no caso
da Michele Ferreira, trata-se apenas de uma mulher duas vezes medalhista de
bronze em Paraolimpíadas.
No futebol de 7, em que a
seleção por um bom tempo teve como base os jogadores de Mato Grosso do Sul, as
condições de treino são tão adequadas que alguns já debandaram para outros
Estados. Sim, aos poucos, as coisas parecem melhorar. Muitos destaques no
paradesporto contam com bolsa federal, e outros, bolsa estadual. Ajuda, mas,
pergunte a eles se é o suficiente? Iniciativa privada passa longe.
Ao contrário do que acontece
nos “States”, país geralmente alardeado como referência pelos especialistas de
esquina. Vai ver que o empresariado de lá tem mais espírito olímpico do que o
nosso. Ou seria falta de credibilidade dos nossos dirigentes? Ausência de
cultura esportiva do brasileiro? Todas as alternativas? Outras opções? Pensando
bem, deficientes somos nós. Coitadinho da gente.
Abraço
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