Crimes do Futuro vai fundo nas entranhas do corpo


 O bom dos filmes dirigidos pelo canadense David Cronenberg é que geralmente são “estranhos”. O ruim, também. Crimes do Futuro, de 2022, marcou seu retorno às telonas depois de oito anos (com Mapas para Estrelas).

O diretor estava com uns 79 anos quando da época de Crimes of the Future. Espero que não demore mais oito…
Dito isso, o longa ao que parece teve mais sucesso entre os críticos. Foi ovacionado quando exibido em Cannes (2022). Mas, não levou. Perdeu para Triângulo da Tristeza. Deu vontade de assistir esse.
Bom, Crimes of The Future é ficção científica ao estilo Cronenberg. O longa se passa em um mundo em que alguns corpos nascem com órgãos a mais e ainda desconhecidos.
Nessa parada, Viggo Mortensen faz o artista performático Saul Tenser. É sempre bacana ver ele nestes papéis nada a ver com o Senhor dos Anéis. Capitão Fantástico também o novaiorquino manda bem. Até porquê depois de uns 15 anos desde o blockbuster comandado por Peter Jackson, o corpo dificilmente é a mesma coisa.
No caso do longa em questão, as mutações biológicas são motes para discorrer sobre limites e até política. Em suas performances e fora dela, Tenser tem a companhia de Caprice. A francesa Léa Seydoux, em minha humilíssima opinião, se destaca no trampo.
Durante a trama, Cronenberg parece saber que isso aconteceria. Em um dos pontos principais da trama, deixa para Seydoux um mini monólogo em que desilude um grupo rebelde. Ou de conspiradores. Ou antissistema. Sei lá, interpretação é livre. Você decide.
Fato é que o tal grupo defende que venha ao conhecimento do público uma “evolução” escondida pelo sistema. E para provar isso, deseja usar o corpo de um garoto – assassinado – para comprovar o próximo passo da alimentação/digestão da humanidade. Confesso, infelizmente, acredito que a gente já consome muita coisa estranha ao nosso sistema. Inorgânica, ultraprocessada, imperceptível. Só aumenta.
Parece que Crimes do Futuro foi um retorno do diretor também para o terror. Nessa seara, gosto bastante de A Mosca (1986). Ainda tem o Gêmeos (1988), Scanners (1981), e o subestimado Videodrome (1983).
Por outro lado, quesito produções que se distanciam um pouquinho dessa seara há Crash – Estranhos Prazeres (1996). Puts. James Spader, Deborah Kara Unger, Elias Koteas, Holly Hunter, e
Rosanna Arquette... Muito bom.
Vai ver, Crimes é uma tentativa de unir esses polos Cronenberguianos. A estética, o ritmo, as performances tensionam bastante para o lado artístico. Ao mesmo tempo, rola uma palhinha gore, e aquelas pitadas subversivas e libertárias do tarimbado canadense.
Agora, se não acha graça ou sentido nas viagens do diretor vai perder tempo.
O longa, que tem também (boa) participação de Kristen Stewart, vem com o selo “sem vergonha de ser Cronenberg”. Para o bem, ou para o mal. Fica a dica. Se me perguntar, digo que vale arriscar. É interessante.


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