Faixa de Gaza é indignação recreativa da vez

E aí, beleza?!


E essa treta Israel Palestina? O clima oito ou oitenta, nós contra todos, Pelé ou Maradona, Rio ou SP, existe faz uma cara. Se pá, sempre terá, vai ver é inerente à sociedade, sobretudo a ocidental. A nossa. “Civilizada”.

De uns anos para cá, parece acelerado demais essas tais bipolarizações. O meio termo inexiste. O equilíbrio se mostra fora do radar, de ser opção.


Agora neste momento, Faixa de Gaza é o que há. O horror. Guerra de versões, de imagens, quando mais chocante, melhor. Quanto mais morte, pior. Para o outro lado.


Essas coisas incomodam. De um jeito difícil de traduzir. A Lúcia Guimarães conseguiu.

Li um texto dela na Folha de S. Paulo mais ou menos sobre esse ódio que irradia e encontra eco redes sociais aflora. Afora. Se conseguir, vale a pena dar uma pescoçada no que ela expôs.


Saiu no último dia 19, com o título “Neblina cognitiva impede a paz”. Tropecei nele semana passada.

Entre as coisas que ela aborda estão os “especialistas” que brotaram depois do 7 de outubro.

A parte que mais me identifiquei foi sobre o descolamento do que acontece perto das pessoas, em sua região, cidade, face a indignação do que ocorre longe da sua realidade.


A jornalista brasileira vive em Nova Iorque, e pega de exemplo, a política por lá e suas mudanças, bem como imprensa – viu a produção local ser detonada pelas grandes empresas – e como o radicalismo reflete no comportamento de grande parcela da população lá do states.


Não é preciso muito esforço para traçar um paralelo com o que se passa por estas bandas. Ao menos na minha bolha, a impressão é a de que mortes de pobres e negros valem nada perto dos que estão longe, muito longe. Até a Ucrânia saiu de cena. De certo, deve ter ficado tudo bem com todos (contém ironia, óbvio). Sei, corro o risco de ser mal interpretado. Paciência.


Lúcia Guimarães cita termo certeiro: indignação recreativa.

Deve ser da mesma turma da indignação seletiva, talvez? Seja como for, foi das melhores coisas que li sobre. Daqueles lances que gostaria de ter escrito, me identifique muito.


No fundo, só queria dizer, que bom seria se toda essa celeuma, debate, conflito judeus x muçulmanos, fosse aplicada a temas espinhosos que estão aos montes em nosso quintal… deixa eu acordar. E esperar qual será a próxima indignação recreativa.


É isso. 


Ah, se quiser ler o texto da Lúcia Guimarães, vai aí



Neblina cognitiva impede a paz

Alienação política e desinformação afetam compaixão por israelenses e palestinos



“Com o número de súbitos especialistas em Oriente Médio surgidos nos últimos dez dias, tenho me desviado do assunto por pura covardia. Sinto medo de descobrir, entre amigos ou entre aqueles que admiro, quem mais vai se revelar capaz de desprezar a humanidade de palestinos ou israelenses.


Nova York abriga a maior população judaica do mundo fora de Israel –1,6 milhão. Há uma linha direta entre a crueldade niilista regurgitada contra judeus ou palestinos e a dieta contemporânea de informação.


O truísmo "toda a política é local" atravessou a história americana no século 20. Era difícil se eleger governador ou presidente sem experiência em política municipal. Com a destruição da imprensa regional nos Estados Unidos e a dominância de um punhado de grupos de mídia digital, neste milênio toda a política é nacional.


Apenas um quinto dos nova-iorquinos registrados para votar compareceram às urnas para eleger Eric Adams, um sujeito escuso, tosco e um dos menos transparentes prefeitos da história recente da cidade. A progressiva erradicação da agenda política local, o desconhecimento sobre o outro que toma o mesmo metrô para trabalhar chegou à apoteose com o trumpismo.


Semianalfabetos brancos em enclaves rurais próximos do Canadá não cobram melhor assistência médica, mas se revoltam contra uma suposta invasão de centro-americanos que nunca chegarão perto deles. Legislaturas de pequenas cidades castigadas pela decadência industrial se consomem em discussões sobre banir livros que não leram e em perseguir pessoas trans que jamais encontraram. Moradores de áreas seguras, que nem trancam a porta de casa à noite, tornam-se coléricos defensores da violência policial depois de assistir a um protesto do Black Lives Matter na Fox News.


É difícil articular clareza moral sobre conflitos distantes sem a educação da experiência geográfica de engajamento com problemas à nossa volta. Na tela do celular e na rede social, toda tragédia da guerra pode ser consumida para gerar indignação recreativa.


O trumpismo e sua imitação brasileira se abastecem desta alienação. Na semana passada, Donald Trump fez um comício em New Hampshire, um estado 90% branco e com uma das mais robustas economias do país. Uma seleção de depoimentos de eleitores do ex-presidente gravada antes do comício e exibida num programa de comédia dá uma medida da seriedade da ignorância e da infantilidade desse culto.


Um homem enrolado numa bandeira disse que o governo Biden é responsável pela inflação e reclamou do preço do leite, para, em seguida, admitir que torrou US$ 2.000 em mercadorias vendidas pela campanha de Trump. Um militar veterano que professava sua adoração por Trump com a clareza de um zumbi defendeu o ex-presidente por ter sugerido casualmente que o recém-aposentado chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o general Mark Milley, devia ser executado por traição. Um homem de meia-idade e modos comedidos disse que o comício favorito a que compareceu foi o do 6 de janeiro de 2021, seguido da invasão do Capitólio que ele descreveu sem hesitação como promovida pelo FBI.


A expressão "névoa da guerra", cunhada no século 19, referia-se à incerteza dos conflitos armados. Mas as guerras do presente encaram outro desafio, o da neblina cognitiva abraçada por tantos em tempos de paz.”



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Paz.

Abraço, se cuide.

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