Sem presente e nem presente em Campo Grande

*Texto meu publicado na edição de hoje (27) do jornal O Estado MS

Já devo ter dito por aqui que sou nascido em Campo Grande. Portanto, parabéns para a minha cidade e seus 117 anos. Uma criança, como diria Oscar Niemeyer, tiozinho gente boa que deixou também uma marca por estas terras: a arquitetura do Colégio Maria Constança Barros Machado.

E por falar em marcas, depois de uma certa idade, este negócio de aniversário sempre traz umas nostalgias. Do tempo em que o Morenão era realmente um estádio, por exemplo. Minha primeira vez na arquibancada para ver um jogo de futebol foi na metade para frente dos anos 80. Meu pai levou a família para ver o Operário encarar o Palmeiras. O time com o goleiro Leão arrancou o empate por 1 a 1 com o Galo de Campo Grande.

E, não foi só o estádio cravado na Cidade Universitária que faz parte das lembranças em “Campão”. Meus primeiros passos neste negócio que me viciou, chamado jornalismo, foi acompanhar partidas do Campeonato Sul-Mato-Grossense no campo do Elias Gadia. Lá, Taveirópolis era mais do que o nome do bairro. O time que era administrado pelo sério e esforçado senhor Anivan Pereira da Rosa, apaixonado pelo Taveira. Aos mais novos, a simpática equipe do Taveirópolis preenchia os corações como o segundo time dos campo-grandenses. Grosseiramente (ou não?) comparando, uma Portuguesa de Desportos, um Juventus, um América-RJ.

E, nem só de futebol esta cidade premia minhas recordações. E lá foi a família, eu (o caçula), ver jogos de vôlei da seleção, da Copagaz, contra o Fiat Minas, amistoso contra o time asiático da NEC, no ginásio Dom Bosco, no Guanandizão. Boas sacadas na memória.

Sem falar do poeirão que tomamos na cara para ver o Campeonato Brasileiro de Motocross. Sinceramente, o local já virou areia. Mas, sei lá, eu acho que ainda escuto o locutor a gritar “Paraguaio! Moronguinho!”. Na minha cabeça eram estes os nomes dos craques pilotos a encarar aquelas rampas.

Daquele tempo para cá, muitos Comerários, jogos do Brasileiro, seleções de futsal, vôlei, handebol, corridas de tudo quanto se move sobre rodas, até etapa mundial de motocross e eliminatória de Copa do Mundo, eu e esta cidade já vivemos.

O passado é um presente que tem de ser preservado. Pena que hoje, o presente esportivo para Campo Grande esteja longe de merecer uma medalha (aquela que o pessoal do futebol recebeu pelo Campeonato Estadual – com direito a papel colado - não vale, ok?! Aí já é demais).

Morenão em outubro vai completar mais um ano sem receber nada. Só promessas. O ginásio Guanandizão segue pelo mesmo caminho.

Pista de atletismo nível A, projeto com ajuda federal, anunciada no parque Ayrton Senna há pelo menos cinco anos, vai a passos de marcha atlética... de ré. Motódromo não existe. Autódromo até tem, mas ninguém sabe ao certo a quem pertence e é tão prestigiada que recebe provas nacionais na condição de estepe. Sabe como é, né, não tem onde fazer, faz lá mesmo.

Incentivo de verdade aos esportes, aos atletas, também é miragem. Políticos preocupados e dirigentes capacitados idem. Quando nem poder municipal, poder estadual e privado não investem nem 1% dos seus orçamentos, é preciso muito espírito olímpico para seguir em frente. Não há presente de presente em Campo Grande. Só passado. E, espero de coração, que haja um futuro.

Abraço e, se cuida, Cidade Morena.

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