Torcida única não é nada clássico

*Texto meu publicado na edição de hoje (dia 9) do jornal O Estado MS
Eu sei, eu sei, muita gente, boa à beça, já falou sobre isto. Mas, foi mal, eu também quero. Daí que o governo do Estado mais rico do Brasil decide que em um jogo de futebol, quando for clássico, só pode ir ao estádio o torcedor do time da casa. Ou, no caso, o clube que tem o mando de campo.

A gota d’água que provocou essa medida totalmente antidesportiva foram as brigas entre “torcedores” de Palmeiras e Corinthians na capital paulista, no domingo. Longe do estádio Pacaembu. Ressalto: distante do campo de jogo. Olha, podem me chamar de sonhador, utópico, idealista, mas... não consigo concordar. Motivos vêm aos montes na cabeça. Um deles é que, ao fazer isto, o poder público assina um atestado de que não consegue proteger o cidadão. E olha que se trata de São Paulo! Cujos clássicos fazem parte da minha memória. Da televisão, assistia aqueles jogos no Morumbi, de 1993, 1994, entre corintianos e palmeirenses, as torcidas dividindo a arquibancada. Vinte e poucos anos depois...

Imagino o pai hoje, quer levar o filho para assistir um clássico, ou mesmo um grupo de amigos torcedores ensaiando para irem ao estádio... sem chance. Seu time de coração é visitante, e que ironia, aprendemos que receber bem as visitas faz parte da educação. E, depois, se esforce para explicar  que esporte é uma coisa saudável, que o legal do futebol é levar as gozações na brincadeira, que é possível gente que pensa diferente de você conviver em um mesmo espaço. Bom, este último detalhe hoje em dia está meio complicado, pelo menos aqui no Brasil.

Ah, falar é fácil. Vai lá controlar um bando de torcedores com paus, pedras e armas nas mãos. Bom, isto não pode ser chamado de torcedor. E, puxa, com imagens, investigação e tudo, é tão difícil identificar os baderneiros e fazer com que a justiça seja feita. Que se discutam medidas para punir quem acaba com a diversão da maioria e não punir por tabela quem só quer torcer ou ver um jogo de futebol. Espero muito que vejam que a ideia foi infeliz ou que a atitude não se alastre.

“Isto nada mais é que o retrato da violência do Brasil”. Dói ouvir isso e nem sei se está errado. Mas ainda me agarro em argumento que li no ano passado durante entrevista de um filósofo (desculpe, esqueci o nome). Era mais ou menos assim: “Dizem que nós, homens, estamos cada vez mais selvagens. Mas, os grupos de pessoas que conversam, se encontram, sem agredirem, ainda são a maioria absoluta”. Abraço.

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