Aceitemos, assistir o Pan é remar contra a maré. Da mesmice?
Você está
acompanhando o Pan-Americano de Toronto? Complicado né? Eu bem que tento, me
sinto quase um Dom Quixote contra o exército de um esporte só. Ou, pior,
empenhado em ganhar mentes e corações do pessoal que só torce para quem vence.
E, ai se parar de ganhar.
Longe de bater
continência, ser soldado, fazer parte da minoria da audiência que muda o canal
do controle remoto às vezes é árduo. Renovar hábitos, sair da mesmice, está
distante de ser fácil para qualquer um.
Vamos ver se o
Pan embala nesta segunda semana, com o pessoal dos esportes coletivos e das
finais. Sim, eu sei que os Jogos que acontecem em Toronto nem de perto é uma
”Olimpíada sem grife”.
Porém, a cobertura dada a ela incomoda. O desdém com que
o brasileiro olha para ela, por desconhecimento, por costume, ou por comodismo
mesmo, chega a ser chato.
Clima bem
diferente de quando o Pan foi no Rio, em 2007. Aquele oba-oba, Brasil-il-il. E
daí que os estadunidenses, os maiores papa-medalhas, não vieram com as
principais equipes? Problemas deles, disseram os ufanistas de plantão, há
longínquos oito anos. Mas, e agora? Qual é a diferença?
Ano que vem, a
Olimpíada será no Rio de Janeiro e o modorrento sou brasileiro com orgulho,com
muito amor vai voltar com carga máxima. Período de alçar os medalhas de ouro,
os exemplos de superação ao Olimpo. E os “vexames”, “pipoqueiros”, “não
agüentam a pressão”, à latrina. Os esportes amadores terão o seu brilho
temporário por um mês, meio ano, ou mais um pouquinho. Se tiverem sorte.
Depois, chega né.
Nos vemos de novo daqui a quatro anos. E, olhe lá, se tiver sorte de ser
lembrado. Larga a mão de querer fazer do Brasil uma potência olímpica. Melhor
cair na real. Poupa todo esse dinheiro desperdiçado nestes esportes que ninguém
assiste. Ajuda o futebol, o esporte do povo.
Para que dar
opção? Descarte qualquer tipo de planejamento de fazer um calendário que possa
contemplar mais esportes. Investimento em categoria de base, nem pensar. Não dá
retorno.
Construção de
instalações esportivas decentes para motivar a criançada está fora de
cogitação. Intercâmbio com outros países é papo furado. Pesquisa aí pela
internet, leia uns livros ultrapassados... é tudo a mesma coisa. Eu, você, e
nossa mania de sabe tudo. Principalmente no futebol.
Espelho deste
sucesso nacional pode ser visto aqui em Mato Grosso do Sul. Especificamente em
Campo Grande. O principal ginásio, o Guanandizão, está interditado. Piscina
oficial, de 50 metros, é raridade. Promessa de pista de atletismo de bom nível
já virou literalmente promessa. De tempos em tempos algum candidato ou ministro
vem à capital sul-mato-grossense garantir um local digno aos atletas treinarem,
mas depois cai no conhecido esquecimento.
Até estádio de
futebol em condições está difícil.
Trabalho para
revelar valores é a conta-gotas, como acontece também em praticamente todo o
território brasileiro. Patrocínio da iniciativa privada...como diria o meu
filho, “tá de brinks comigo, né?!”. Daí sobra tudo para o poder público.
Irônico, o
esporte que teoricamente menos precisa é o mais agraciado. E, mais curioso, não
tem a medalha de ouro olímpica.
Ingenuidade minha
pensar que o futebol possa ceder aí uns 5% da atenção minha, do torcedor, do
especialista, do povo da grana, da parte de quem transmite os esportes para sei
lá, pelo menos mais uns cinco, dez modalidades. Durante o ano inteiro.
Demais, não é?!
Abraço
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