Ninguém cresce malandro. Quando isso acontece?
*Texto publicado na edição de sábado (11) do jornal O Estado MS
Por estes dias, um pensamento
me pegou de supetão. Um pouco de filosofia, sociologia chinfrim talvez. Ou mero
desejo intrigante de tentar entender alguma coisa da natureza humana. Vejo,
leio, acompanho jogadores que ficam mais conhecidos pelo que fazem de errado do
que já fizeram ou fazem com a bola nos pés.
Criticados por suspeitas de
negócios ilícitos, de xingar árbitro, de uma falta que pode quebrar a perna de
um companheiro de trabalho, de agredir e dizer que não fez nada, simular falta,
e por aí vai. O momento de reflexão é o seguinte: Quando ou em que hora da vida
o cidadão dá essa entortada em sua vida?
Sim, não sei de nada,
inocente. Parto do princípio que a pessoa nasce sem o intuito de já querer
levar alguma vantagem. O recém-nascido é incapaz de fingir o choro, ou querer
enganar o médico para ficar dentro da barriga da mãe, porque lá é quentinho,
protegido e tem tudo que precisa.
Quando será que a criança, o
garoto ou o jovem é convencido de que o jeito errado é o certo? Ou a que época
o correto é da maneira que melhor convier?
Será que chega uma hora em que
desacredita na honestidade dos outros e vê seu amigo ou seu ídolo subindo na
vida tendo a malandragem como carona?
Ou considera mais vantajoso se
aliar aos “caras” que vão te ajudar, mesmo que depois tenha de fazer favores em
troca? Sabe como é, né, não pode esquecer de quem te ajudou, dos “amigos”.
Cada caso é um caso, de
repente. Questão de caráter ou de sobrevivência, vai vendo. Mas e quando o
jogador já não é mais um pé-rapado. Qual o motivo de tentar levar vantagem
dentro ou fora de campo?
E depois que pendura as
chuteiras, vira cartola. E, mesmo se tem as ferramentas para fazer diferente e
melhorar o esporte do que os antigos dirigentes, acabam na mesmice? Ou “mudam”
para deixar tudo igual?
O poder corrompe? É o medo de
voltar às raízes de quando era pobre, mas limpinho?! Simplesmente, esquece de
onde veio, ou o que a sua mãe ou pai, ou, se tiver sorte, ambos, ensinaram?
Bom, há situações em que os parentes já não são flor que se cheire.
Muitas vertentes, muitas
situações. Já escutei que o ambiente faz a pessoa. Aliás, quando estudante,
discordei disso em uma prova e fui devidamente reprovado pelo professor. Vai
ver, o mestre (um cara legal, aliás, pensou que nasci em berço de ouro. Que as
oportunidades diminuem na ordem inversa da pobreza. Talvez, naquela época,
estudante do “científico” (o ensino médio da época), me expressei mal. Queria
falar que você não é obrigado a ser uma pessoa ruim somente porque nasceu em um
lugar que não é, digamos, um córrego que seja de tranquilidade. O melhor seria
se eu tivesse conversado diretamente com o professor. A timidez, muitas vezes,
é uma merda.
Será que ainda há tempo? Muita
ingenuidade talvez? Chegar para alguém que sabe que fez coisa errada e nem
corado de vergonha fica e perguntar: “vem cá, você lembra quando começou a
achar que é melhor fazer as coisas do jeito errado?”. As possibilidades do
cidadão ficar, no mínimo, irritado, são grandes. Nem sei se é pertinente, de
verdade.
Paciência, o pensamento
vagueia na lua cheia. E, pasmem, estas mal-traçadas linhas foram uma forma de
falar algo sobre a eleição. Só trocar as situações do futebol pela política.
Duas coisas que, parafraseando uma amiga minha: “Não tem nada a ver, mas tem
tudo a ver”.
Boa semana a todos.
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