Japa, japonês, ow ‘ah, é tudo igual’, fui ao shopping e lembrei da gente
Opa, beleza?!
Esse domingão que passou foi estranho. A palavra talvez pareça inadequada. De repente, até o fim dessas groselhas encontre outra.
Em um shopping, ia rolar um lance de interesse do filhão, momento Uber Pai.
Como o estabelecimento em questão é longe de casa, uns 40 minutos de carro, e olha que era fim de semana - imagine em dias normais...melhor nem imaginar – achei melhor fazer um day use. Economizar etanol, sabe como é, né.
Inicialmente, comumente, diria, tava muuito a fim de ir não. Depois, também como de costume, me animo ou encaro de um jeito mais leve.
Peguei uma HQ, mais um livro que tem a ver com Stranger Things, fone de ouvido, e o celular com bateria bem mais carregada do que minhas parcas energias humanas. Fui.
Daquelas coisas sem perceber, rolou uma imersão nipo-okinawana.
Pra começar, acontecia um evento daqueles em que mangás e animes japoneses são o que interessa. Juventude cosplay, saca? Concurso de melhor fantasia, bastante concorrido, outros nos jogos eletrônicos, etc.
Enquanto isso, estilo um homem na estrada recomeça sua vida: naquela tarde/noite a existência do ser era perambular e fazer o tempo passar.
Parei em uma livraria. “Posso ajudar?”, indaga a simpática funcionária. Não, só vim dar uma olhada, mesmo.
Para não parecer indelicado – sei lá, porque pensei isso, nada a ver – citei o primeiro autor que veio à mente. Ah, só para saber, tem alguma coisa do Murakami?
A capa dp livro O Assassinato do Comendador
- Reprodução/Blog do Kishô
Detalhe: até umas semanas, desconhecia o “tal” Haruki Murakami. Sinceridade constrangedora: me interessei porque a Ana leu um post do bloguinho, aquele do Sam, No Name, e Impossíveis, e me perguntou se já tinha lido algo do escritor japonês. Achou parecido o estilo.
A livraria tinha somente volume 1 de O Assassinato do Comendador. Sentei por lá, e ganhei uma hora ao ler umas dezenas de páginas. O cara escreve muito. Além disso, ao menos o início do livro, o personagem passa por algumas coisas incrivelmente parecidas com o que passo atualmente. Que coincidência atroz. Pena estar quebrado de grana, compraria fácil. Fica a dica.
Então, depois do evento com temática visual japonesa; de ser apresentado minimamente à obra de baita escritor lá do país do Sol Nascente, fui dar outra volta nos corredores do centro de compras de lojas mais fechadas do que abertas. E, deparo com uma mostra de fotos e textos em um pequeno espaço. Diria que discreto. Até demais, mas, tudo bem.
Uma das imagens da exposição O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande - Reprodução/Blog do Kishô
"O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande" é uma boa introdução para quem sabe muito pouco sobre o povo de Okinawa. Tem o apoio da Biblioteca de Okinawa-JAP. Inclusive, veio um pessoal de lá e ficou por uns dias em Campão para coletar material e turistar, claro.
Posso dizer que pouca coisa da exposição, que vale a pena dar uma olhada, era novidade para mim. Sei, não transparece, mas tenho certa noção de onde vieram minha mãe, meu pai, e por aí vai.
Por isso, o que mais chamou a minha atenção na mostra que começou no dia 12 deste mês – não sei até quando vai – foi parte de texto sobre o que aconteceu em Santos, litoral paulista, na época da Segunda Guerra Mundial.
Em 8 de julho de 1943, imigrantes japoneses e suas famílias tiveram 48 horas para abandonar a cidade por ordem do então presida Getúlio Vargas. A estimativa é a de que, no meio de um frio danado, ao menos 5000 pessoas – homens, mulheres, inclusive grávidas, crianças – foram enfiadas em uma pá de vagões rumo a Hospedaria dos Imigrantes, na capital paulista.
Guerra é guerra, e o Japão era inimigo dos Aliados. Porém, acredito que a população de descendência japonesa, entre eles várias família de Okinawa, foi a que mais sofreu com retaliações do governo brasileiro naquele período.
A razão está literalmente na cara, né. Os olhos puxados entregam muito mais do que a origem.
Gente branca, ocidental, da Itália, da Alemanha tiveram seus perrengues, claro. Só que, duvido muito algum caso desse tamanho como o ocorrido na Baixada Santista.
Ah, e com o término do conflito bélico, antigos responsáveis dos terrenos, das casas, das lojas, entre outras fundações, tiveram uma surpresa. Os que retornaram a Santos, ou encontraram seus lares depredados, destruídos, ou viram as áreas com novos moradores. Perdeu japa, japona, japonês, nãosei, e, melhor parar por aqui.
Soube desse “incidente” não faz muitos anos, por meio de edições de uma publicação chamada Muribushi. De tempos em tempos, meu pai recebia exemplares, pois ele ajudava, inclusive pingando uma grana para apoiar – e eu lia emprestado. Ela é produzida – não sei se ainda está na ativa – por uns tiozinhos de São Paulo, na raça (por favor, sem trocadilho), mesmo. Baseia-se em relatos dos imigrantes que se fixaram no país. Cada história de cortar o coração.
Tiver a fim de mais informações joga na pesquisa “muribushi revista”. Dá para pinçar coisas interessantes.
Passagem que narra o 'incidente' em Santos em exposição no Shopping Bosque dos Ipês - Reprodução/Blog odo Kishô |
Em 2009, foi encaminhada uma petição que reivindicava o reconhecimento da injustiça – a evacuação forçada foi sob pretexto de que ali viviam espiões - e um pedido de desculpas junto à Comissão de Direito Humanos, em Brasília. Estamos em 2023 e contando…
Se eu nutro certa mágoa com ese dar de ombros do governo, imagine os familiares que tiveram os entes envolvidos. Muitos que viveram a situação ficaram décadas em silêncio, e deixavam o assunto quieto até no trato comos mais novos. Tinham vergonha, ou traumas.
Os poucos depoimentos só foram obtidos depois de um tempão.
De volta à exposição, mesmo que de passagem, relembrar esse episódio pouco conhecido e nebuloso da imigração japonesa já valeu.
Eis que o passeio chegou ao fim, com a sensação de sem querer, querendo, ter tido uma experiência visual-literal-sentimental que mexeu comigo. Nesses momentos, geralmente lembro de trecho da música do Titãs. Não sou brasileiro, não sou estrangeiro, sou de nenhum lugar, de lugar nenhum.
É isso. Acho que exagerei. Vai assim mesmo
Abaixo, links que tem algo a ver com o incidente de Santos
- Imigração histórica
EXPULSÃO DE JAPONESES DA CIDADE DE SANTOS EM 8 DE JULHO DE 1943 - RELATO INÉDITO DE INÁCIO MORIGUCHI", POR PROJETO ABRANGÊNCIAS
- Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social
Em nome dos imigrantes japoneses
https://www.bunkyo.org.br/br/
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