Na minha época de criança, torcer para a seleção era mais legal

*Publicado na edição de sábado (10) do jornal O Estado MS

Como se aproxima o feriado de Nossa Senhora Aparecida, do dia 12 de outubro, tanto ou mais conhecido por ser o Dia das Crianças, vou me dar de presente o que todo menino grande que gosta de futebol adora fazer: fingir ser comentarista.

O alvo da vez, claro, é a seleção. Por que ela não encanta tanto quanto eu era garoto pequeno e morava no bairro Amambaí? Época em que jogava bola na praça da frente, antes de virar a das Araras, e todo mundo queria ser alguém do Brasil-il-il. Ou, na pequena garagem de casa, onde o tamanho dos gols era delimitado pelos chinelos, as traves mais anãs do imaginário infantil. E dá-lhe gol do Zico, do Careca, passe do Sócrates, defesa do Carlos, o capitão tinha de ser o Oscar. Ninguém queria ser muito os gringos. E olhe que havia um tal de Maradona, de Lotar Mattaus, de Platini (pena depois ter ido para o lado negro da Força), e tantos outros.

Se bobear, a Copa de 86 foi o momento, talvez, de maior religiosidade de um moleque sub-10. Rezei para que o Zico acertasse o pênalti. Acho que os deuses do futebol não botaram uma fé e deu no que deu. Amém.

Já na década de 90, lembro o frango do Taffarel nas eliminatórias lá nos cinco mil metros e bolinha de La Paz. A derrota na Bolívia foi chata. Perder para uma equipe que tinha umas invenções do tipo Erwin ‘Platini’ Sánchez foi duro. Mas, como a adolescência é um período de altos e baixos, lembro da partida de volta. Pela televisão, ver a goleada por 6 a 0 em cima dos bolivianos, lá no Recife, é destas coisas que ficou na memória. Bons tempos.

Neste momento, deve ser difícil para a criança torcer pela Amarelinha. A maioria dos jogadores atua fora do Brasil e ela quase nem vê o talento por estes campos. Só no vídeogame. O técnico chama-se Dunga, e mesmo que ele não queira, o nome já é um convite para o engraçado. Mesmo que o treinador, à primeira vista, parece ser avesso ao humor. Talvez, isto se reflita dentro do gramado. E, olha que lembro dos lançamentos dele para Romário e companhia na Copa de 1994. Até do palavrão que ele soltou quanto ergueu a taça lá nos States. O que faz a pessoa endurecer e passar do ponto. Futebol é para se divertir. No começo, creio, Dunga também devia jogar bola com seus amiguinhos e só queria ser feliz. Imaginar lá nos pampas ser um Everaldo, um Figueroa. Sei lá, vai ver só Freud explica.

Sim, claro, o cargo de técnico da seleção brasileira é coisa séria. Mas parece brincadeira quando jogadores chamados de última hora entram em campo como titulares. Caso dos laterais Daniel Alves e Marcelo.

E, depois de um ano do seu retorno, não se vê nenhum padrão de jogo na seleção. Na quinta-feira, em certo momento, depois do gol do chileno Vargas, a câmera exibiu uma imagem feita do alto e os jogadores brasileiros pareciam que estavam jogando como a gurizada no recreio. Aonde a bola ia, iam atrás, e os chilenos só no olé, olé.

“Tá de brinks comigo!”, como diria o meu filhote. Que está meio por fora, mas sabe que Neymar é o cara. Tanto que, acredito, é o único jogador do Brasil que ele sabe o nome. O craque fez falta diante da seleção chilena. E, para Dunga, acho que a ausência parece ser desesperadora. Aliás, com o Felipão já era assim. Joga para o Neymar, ele resolve.

Bons tempos em que, com todo o respeito, jogar com o Chile dava medo. Para eles. Aí vem a turma do deixa-disso e destila: “No atual momento, perder para o Chile, dentro da casa deles, é normal”. Caracas, uma coisa é você dar valor ao adversário. Outra, é este conformismo esquisito. Pior ainda é confundir as bolas.

Ver gente comemorando os gols do Chile foi estranho. “Ah, é para protestar contra a CBF, contra o governo, contra tudo!”. Puxa, que legal. Imagino os Estados Unidos perdendo um título no basquete, Cuba no beisebol, a Argentina no futebol, o Japão no judô, a Alemanha em qualquer esporte. E o pessoal na terra deles soltando fogos. Não, não imagino. Pois, nem entra na cabeça deles torcer contra a própria terrinha.

Confesso, torço mais para o meu time (que é brasileiro, bem claro) do que para a seleção. Mas, daí a comemorar a derrota. É demais. Criticar, zoar, é válido. É do brasileiro. Ser do contra só por ser é pensar pequeno. Demais. Deve ser coisa de quem se sente superior ao “brasileiro”.

E, lembre-se: as crianças crescem imitando os adultos.
Abraço.

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