A eterna ‘utopia’ do interesse público
*Texto publicado na edição de hoje (23) no jornal O Estado de MS
Na faculdade de jornalismo, entre várias (in) disciplinas
úteis para que seja moldado o futuro jornalista, uma das questões que levo
comigo até hoje é o tal “interesse público” e o “interesse do público”.
Se tal fato merece ser divulgado porque interessa à
população, ou se tem de ser noticiado porque o leitor, telespectador,
internauta precisa ou tem o direito de saber.
Fatalmente a questão termina em discussão. Seja por motivos
ou argumentos acadêmicos, teóricos, ou por abordagens mais passionais mesmo. No
caso de hoje, vai ser pela segunda alternativa. A primeira dá muito trabalho,
exige muita leitura, que vai além dessas discussões via redes sociais, e,
sinceramente, seria deselegante entrar na seara dos estudiosos da comunicação.
Pelo menos, grande parte deles merece o apreço. Outros, padecem de um choque de
realidade prática. E, arrotam conhecimento distante do dia a dia como se fora
uma entidade ou colecionador de Prêmio Esso. Deve ser a tal Lei de Gerson.
Deixa para lá.
Esta introdução pseudo-intelectual é para dizer que
considero uma pena os jogos de Cruzeiro e Inter na Taça Libertadores passarem
longe da televisão aberta. Aberta para quem? Tudo bem, é inegável que por estas
praças, os times do Rio e do São Paulo ficam com fatia considerável do bolo
torcedor. Mas, sendo a tevê uma concessão pública, não seria plausível que
fossem transmitidas jogos com clubes brasileiros? Desmonopolizar é preciso. Que
tenhamos a chance de ampliar o leque. “Ah, mas não dá audiência. Ninguém vê”.
Concordo,a audiência de um time mineiro, um gaúcho, ou outro que não seja do
eixo Rio-SP cai consideravelmente. Embora, em domicílio nenhum em Mato Grosso
do Sul exista uma caixinha do Ibope.
Entretanto, se trata do atual campeão brasileiro, no caso o
time celeste, e de um clube que eliminou justamente o atual campeão mineiro e
último brasileiro a conquistar a Libertadores, a equipe colorada
porto-alegrense.
Não seria de interesse público futebolístico exibir os jogos
da principal competição de clubes da América do Sul? Sem medo de errar, garanto
que há mais audiência do que um “crássico” entre Novoperário e Cene. Pelo
menos, que fosse oferecido, neste caso, a outra emissora a transmissão.
Sei que é uma discussão antiga. Talvez, soe até contra
demais. Mas, a unanimidade é burra (acho que já citei esta frase de Nelson
Rodrigues por aqui). Já achei um pecado os dois duelos entre Inter e
Atlético-MG pelas oitavas de final ficar restrito apenas às tevês por
assinatura. Os dois melhores jogos do ano entre clubes tupiniquins no ano. Com
todo respeito a são-paulinos e corintianos, tecnicamente as eliminações foram
em jogos fracos.
Agora, baseados em audiência e interesse público, poucos
puderam assistir a derrota do Colorado Gaúcho para o Santa Fé, na Colômbia. E,
pior, a vitória do Cruzeiro em plena Buenos Aires sobre o River Plate, em um
estádio lotado (raridade por estas plagas e que fica visualmente tão bacana no
tubão, ou no plasma, no LCD, no led).
Isto, sem contar, os outros esportes. Que terão seus minutos
de fama ano que vem com os Jogos do Rio-2016.
No mundo paralelo ao futebol, exemplos não faltam: tenistas
brasileiros estão ganhando jogos importantes, o
Brasileiro de Basquete chega às suas finais, uma das melhores
levantadoras do Brasil em todos os tempos, Fofão, fará a sua despedida das
quadras, e por aí vai.
Nada disso vai ganhar mais espaço do que o cubículo em que
habitam, salvo algum acidente ou incidente ou violência. Porque, aí sim,
torna-se “interessante ao público”. Sigo
dando murro em ponto de faca. Abraços.
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