E Manoel de Barros enterra o seu tempo de vez

Há quase 11 anos, fiz uma matéria, ainda no Campo Grande News, e que foi parar também lá no Terra.
O contato foi rápido, por telefone, e terminou assim: "Tá bom meu filho, acho que já falei bastante, um abraço"

E já que estamos no momento luto "Eu também quero falar sobre Manoel de Barros", vai aí a  minha simples homenagem ao 'seu' Manoel.

Manoel de Barros faz 87 anos "enterrando o tempo"

Divulgação
Dezembro de 2003

LUCIANO SHAKIHAMA


"Eu enterro o tempo". A frase é do poeta Manoel de Barros, que completou nesta sexta-feira 87 anos. Por telefone, o escritor, considerado um dos maiores do país na atualidade, contou que não fez nenhuma festa. "Depois de 60 anos, a pessoa deve ficar comportada", fala, não escondendo a opção da reclusão em sua casa em Campo Grande, e alimentando a já a conhecida escolha de evitar expor sua imagem em eventos ou homenagens. Mas a sua escrita sim.
O cuiabano que escolheu Mato Grosso do Sul para viver e o Pantanal para as suas histórias diz que em janeiro deve estar entregando um novo livro com poemas. O nome da obra? "Eu sei mas não vou falar. Acho que a editora não vai gostar", brinca. Ao responder a pergunta sobre como anda a cultura no Estado, Manoel limita-se a dizer que "não acompanho muito, mas tá melhorando. Eu saio pouco, sou um ermitão".

Voltando ao assunto do seu aniversário, a questão é a já batida "qual é a lição ou mensagem que o senhor tira dessas 8 décadas e alguns anos de vida?". A resposta, como não poderia deixar de ser, vem a lá Manoel de Barros: "Um negócio eu aprendi. A coisa mais séria no mundo é não levar nada a sério", simples e sabedor, resposta de quem um dia já escreveu que para chegar ao céu, usa pássaros.

A conversa é boa, mas Manoel de Barros interrompe: "Tá bom meu filho, acho que já falei bastante, um abraço", desligando o telefone. Tudo bem, é preciso reconhecer que o poeta deve ter maneiras melhores de enterrar o tempo.

Primeiro trabalho é de 1937
Manoel Wenceslau Leite de Barros, ou Manoel de Barros, nasceu em Cuiabá (MT) em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, mudando-se para Corumbá (MS) Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.

O escritor é casado há 56 anos com Stella, com quem teve os filhos Pedro, João e Marta (que fez a ilustração da capa da 2ª edição do Livro das Pré-Coisas) e sete netos.

Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.

Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de 60 anos: Poemas Concebidos sem Pecado (1937). Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.

Na carreira, o poeta foi agraciado com o "Prêmio Orlando Dantas" em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro Compêndio para Uso dos Pássaros.

Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra Gramática Expositiva do Chão e, em 1997, o Livro sobre Nada recebeu o Prêmio Nestlé, de âmbito nacional. Em 1998, recebeu o Prêmio Cecília Meireles (literatura/poesia), concedido pelo Ministério da Cultura.

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