Só vou DesabaFLAr
Técnico Jorge Jesus durante jogo com o Bangu, 18 de junho, no Maracanã - Alexandre Vidal/Flamengo |
Acompanho alguma
coisa de esporte desde que entendo por gente. Verdade. Quando
criança, morei em uma casa que tinha umas 14 pessoas. Pai, mãe,
irmãos, vovô, vovó, e uns seis tios, todos por parte do Véio, o
mais velho deles.
Pessoal ali curtia
muito uma competição. Quando aprendi a ler, devorava as edições
da revista Placar, compradas religiosamente a cada semana. Acordava
de madrugada para ver as corridas de Fórmula 1 com minha “batchan”
(vó em japonês), celebrava a virada do ano de carona com a então
noturna São Silvestre, grudados na televisão, e escutava e assistia
muito, óbvio, futebol. A memória engana, porém creio que uma das
primeiras coisas a gravar na memória foi a final do Mundial
Interclubes vencida pelo Grêmio contra o Hamburgo alemão. Lá se
vão quase 37 anos.
Futebol,
futebol...Confesso que, desde o início da quarentena, com a parada
dos jogos, me desliguei ao máximo do noticiário “dentro de
campo”. Reprises, debates sobre os grandes times das décadas de
70, 80, 90, 00, se o craque das antigas daria certo no esporte bretão
modernizado de hoje, estiveram longe de motivar este quarentão que
nutre uma paixão de torcedor desde sempre. Alguns torneios europeus
retornaram e minha animação ainda está igual a taxa de isolamento
social em território nacional.
Como ponto fora da
curva – aliás que só aumenta, se é que você entende – a
preocupação deste que escreve continua a ser como parar essa tal
COVID-19. Baixar a bola dele, controlar, para voltar aos campos e ás
ruas com um mínimo de consciência tranquila. Sem fingir que tem uns
abnegados confortavelmente em bolhas de conforto a praticar seu jogo
preferido enquanto fora dela morre, morre, e morre gente.
Torcedores.
O Flamengo jogou
quinta-feira. Em um Rio de Janeiro reflexo do Brasil na bizarra luta
contra a pandemia. Caros e caras, um sentimento muito estranho.
Geralmente, quando é dia de jogo, acordo animado, ou vá lá,
preocupado com o time em campo, quem vai jogar, tabela de
classificação na mão, caço alguma rádio para escutar a peleja,
etc.
No dia 18 de junho
que passou, os 3 a 0 dos comandados de Jorge Jesus sobre o Bangu em
um Maracanã silencioso como um enterro me pareceu tão verdadeiro
quanto ministro militar dizer que o Nordeste tem um clima parecido
com o Europeu. Quando o atual campeão Brasileiro, da Libertadores, e
que orgulhou pelo menos 40 milhões diante do atual melhor time do
mundo entra em campo como quem manda um “E daí?” para a penca de
problemas que enfrenta o seu povo é muito triste. O coronavírus é
uma das batalhas do pacote. Preciso sair logo do país. Sem Educação.
Casagrande está
fora do meu top-5 de comentaristas de futebol. Entretanto, está a
usar o microfone e sua visibilidade muito bem nestes tempos.
Corajoso. “Para que a pressa, presidente?”. Ora, estamos a falar
do clube de futebol propalado como o mais rico do país, ao lado do
Palmeiras.
Eu que sigo contra a
volta das aulas no dia 1º de julho – assunto sobretudo da minha
rede “particular”, digo para quem quiser escutar que se pudesse
todo mundo estava a trabalhar de casa desde março até pelo menos o
fim de agosto. Ou quando, de fato, os números começassem a cair.
Acho que não estou
sozinho. Porém, muitas vezes, deve ser esta a sensação de quem
pensa como eu. Solitário. Mesmo com a ciência a favor e porrada de
países de vários continentes a seguir um dos poucos caminhos que
comprovadamente deram certo nesta luta com a COVID-19 – a do
isolamento.
Foi mal, quem sabe
estou errado mesmo. O cara rico disse na época da “gripezinha”:
e daí se morrerem sete, oito mil, a economia tem de seguir aberta.
Mais cara de madeira, impossível. Vida, meu amigo, não é número.
Sei, é batido, só que, sejamos justos, nestes casos tem de martelar
para ver se entra na cabeça dura destes ignorantes.
Muitos não tem nem
cama para mandar o tal “chora lá que é lugar quente”. E o
tiozinho, a tiazinha, em casa, tranquilos, a mandar o funcionário
abrir a loja, fazer a correria, a empregada “serviço essencial”
se arriscar no busão para deixar a Casa Grande limpa e branca. E,
sem acréscimo no pagamento porque, você sabe né, estamos em crise
e nem vamos viajar para os Estados Unidos – até porquê o amigo do
bolso já avisou: sem visitas, brasileiros.
Já deu. Perdão.
Por outro lado, obrigado. Se cuidem. Sempre que possível
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