Precisamos falar sobre o doping

*Texto meu publicado na edição de sábado (12) do jornal O Estado MS

De tempos em tempos, um amigo meu brinca (ou não) com a situação e defende a realização de uma olimpíada apenas para atletas dopados. “Já imaginou?! Seria uma competição com ‘super-homens’, ciborgues etc... Kishô, não tem como pegar  todos os caras [no exame]. Então, seria mais ‘honesto’ liberar logo o doping. Uma olimpíada para eles, outra para os ‘normais’”, sugere.

Futurologia à parte, é preciso tratar mais a sério o que acontece longe das pistas, quadras, ringues, campos, piscinas e tudo o mais. Muito mais do que o “trapacear”, o atleta e toda a equipe, o aparato envolvido, pois raramente se faz sozinho, existem umas variantes preocupantes para rimar como dantes.

Uma delas é que o atleta faz um mal a ele mesmo. Sabe aquela história de quando você está na escola e a professora diz: “quando você cola, você é que está se enganando e fazendo um mal a si mesmo”. É por aí. O uso de esteroide, anabolizantes, drogas, substâncias químicas ou até hormônios vai detonar o usuário a médio ou a longo prazo. Basicamente, o raciocínio é simples: tudo que é biologicamente estranho ao corpo faz mal. A glória vai passar e além de torcer para não descobrirem, o pseudo-vencedor terá de se sentir aliviado se passar o resto da vida sem sequelas. Para ilustrar, mire-se no exemplo das mulheres não de Atenas, mas de estrelas com brilho fugaz como Florence Griffith Joyner. Corredora estadunidense, que, parafraseando o Falange da Rima, você chegou 38, mas não vai chegar 39.

Outro problema: por tabela, dopa as crianças. Já falei em outras ocasiões, talvez o fato de ser pai pesa a favor, a molecada se espelha nos adultos. Se for vencedor, melhor ainda. Mas e quando você decepciona o gurizinho, a guriazinha? E como é que fica a gente, que tenta ensinar que o justo é o certo? Que quando ganha assim, não vale?

Eu não sei. Os holofotes, a fama, alguns dizem que a mãe dos pecados capitais é a vaidade. Atletas consagrados, atores, ídolos admitem que aplausos viciam. Vai ver, o doping é uma chance de prolongar a permanência no mar de rosas que é estar por cima.
Mas próximo aos Jogos do Rio-2016, e a explosão de gente top atingida, Sharapova à frente da nau russa, brasileiros também na mira, como esquecer Anderson Silva ou Ana Cláudia Lemos, mulher mais rápida do país até então garantidíssima no maior evento esportivo do planeta, o misto de tristeza e preocupação com o presente e o futuro do esporte é explícito.

Superação, saúde, alegria são ingredientes que fazem disto uma paixão. Não substâncias com nomes esquisitos, dignos de seriados investigativos gringos.
Como proceder? A repressão por si só vai resolver? Passou da hora do pessoal graúdo e que manda neste negócio pôr as cartas na mesa e elevar o assunto a um patamar nível trocentos em uma imaginária escala Richter. 

Ilusão ou ingenuidade pensar que neste momento são poucos os cérebros que maquinam novas fórmulas de burlar o espírito esportivo.
Vai ver, está todo mundo “dopado”.

Abraço.

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