Cruyff tem sorte de não ser brasileiro

*Texto meu publicado na edição de sábado (26) do jornal  O Estado de MS

Ainda bem que Johan Cruyff não é brasileiro. Sério, o holandês campeão europeu de clubes como jogador e técnico, cérebro de uma seleção intitulada Laranja Mecânica que, até quem não viveu a época (como este que escreve), entrou para a história por um estilo único, vistoso e até hoje inimitável, seria visto com um certo desdém. O motivo: não ganhou uma Copa.

Chegou perto, foi vice em 1974. E, como bem sabem os vascaínos, o também cruzmaltino tricampeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, sintetizou este sentimento: “o segundo é o primeiro perdedor”. Pior para Zico, quem sabe se nascesse nos Países Baixos teria sua condição de ídolo elevada ao nível que merece.

Mas, paciência. O craque, técnico e, por último, comentarista de opiniões fortes, Cruyff fará falta no campo das ideias, das posições, do ataque ao lugar- -comum, sem que isto seja visto como um convite à violência gratuita ou à raiva ignorante e mimada, hoje incutida no futebol, fora dele, nas redes dos gramados e fora deles, mundo afora. Bola fora demais. Calma gente calma.

Laranjas à parte, falemos um pouco sobre o futebol nacional. E, março perto do fim, e o marasmo continua. Os retumbantes campeonatos paulista, carioca, gaúcho, mineiro... quanta emoção! A coisa melhora mas não muito na Primeira Liga e Libertadores. Só que, sei lá, os times parecem ainda estarem longe de empolgar. Do pouco que apetece após três meses, diria que o Corinthians e o Atlético-MG, estão um passo à frente. Santos logo em seguida, pois estadual é difícil para referência, mesmo caso se aplica ao time de São Januário.

Papelão ou decepção encontram-se são-paulinos, palmeirenses e flamenguistas. Técnicos, jogadores, direção, reclamam do calendário, e já definiram um inimigo em comum para culpar. Não, não é a Dilma, o Lula, o Aécio, o Cunha, o Bolsonaro, o Moro, o Japa da Federal, o Azambuja, o Bernal, o Puccinelli, eu, ou você... É o “desgaste”! São muitas partidas na semana, muitas viagens, cansa demais, o físico não aguenta.

Sim, como diria Chaplin (acho que já escrevi isso aqui mas vai assim mesmo): “Não sois máquinas! Homem é que sois!”. Concordo, pensa que é fácil treinar todo dia, ficar longe da balada ou da família, e jogar duas vezes por semana?

 Porém, não estamos falando de times periféricos, que orbitam à margem dos grandes centros e possuem às vezes só 18 atletas no elenco. Por baixo, clubes da Série A tem 25, 30 jogadores. Tiveram pré-temporada, se alimentam bem, tem academia, acompanhamento médico, jogam em estádios de Copa do Mundo ou, no mínimo, arenas que comportam por baixo 20 mil torcedores.

Não é, como reportou o pessoal do Mato Grosso que, chamou o campo que tem jogos em Campo Grande, de estádio comunitário. Aliás, capacidade teórica para 5 mil pessoas e, nem assim, enche.

Quer reclamar, reclama com o presidente do seu clube. Que, ao lado de outros cartolas de outros times, aceitaram essa lista de jogos e torneios maluca confeccionada pela CBF. Falta de bom senso!

Ou sei lá, perde por w.o. Já que descansar é preciso. Na boa, no fundo, o problema principal já cantou a Legião Urbana, “todo mundo sabe e ninguém quer mais saber”: é pla-ne-ja-men-to. Em todos os aspectos. Desde saber quantos jogos seu elenco suporta, até evitar criar mais partidas, mais locais para jogar. Discutir com os organizadores como deixar a grade de jogos menos pesada. Jogador cansado, jogo piora, torcedor só cobra.

Ilusão? Talvez. Mas, ano após ano, essa roda gira da mesma forma, e o que vemos? Cada vez soar menos estranho aos ouvidos nomes como Barcelona, Real Madrid, Paris-Saint-Germain, Bayer de Munique...

Ou como disse a minha mãe esta semana, numa quarta-feira: “Você vê o jogo do Neymar, Messi (Barcelona), é uma coisa. Aí você vê jogo do Corinthians, São Paulo, Flamengo é outra coisa. Depois vê o campeonato daqui (o Sul-Mato-Grossense)... não dá”.

Vai vendo, explica aí... Eu? Eu não. É muito desgastante. Abraço.

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