Você pode me dizer quanto ganha?

*Texto publicado na edição de sábado (11) de jornal O Estado MS

A curiosidade humana às vezes me soa desumana. No esporte, principalmente no futebol, há o quase obsessivo interesse de saber quanto o jogador, ou o técnico ganha de salário. Creio que até já tenha tratado disso neste espaço.
É, realmente muito importante saber quanto o atleta, o técnico, ou outro bam-bam-bam do esporte recebe mensalmente? Vale também para outras áreas fora do desporto.
Você tem o costume de ficar perguntando quanto seu amigo recebe? Gosta de falar quanto ganha por mês? Chega em uma conversa dizendo “Não precisa perguntar, eu ganho tanto por mês”. Duvido. Se sim, acredita ser uma coisa normal versar sobre salários, que legal.
Respeito sua posição, desenvoltura e, de repente, prova ser uma pessoa esclarecida no
trato da “que$tão”. Eu, na minha timidez e, talvez, privacidade, admito sentir um desconforto com este tipo de conversa. Prefiro que me ajudem a pagar minhas contas. Topa?
A situação retornou aos meus sobreviventes neurônios com força depois de uma conversa que tive com um amigo são-paulino. O tema era a saída de Muricy Ramalho. Que, aliás, quantos dedos para tratar da demissão do gente boa Muricy, hein?! Oficialmente, a dispensa se
deu por motivos de saúde.
Ok, o tiozinho realmente precisa de um descanso, terá de passar por uma cirurgia, que se recupere o mais rápido possível. Mas, sejamos sinceros, se o Tricolor tivesse com desempenho acima da média nesta temporada, o glorioso dono do bordão “aqui é trabalho” sairia?
No máximo, pediria uma licença, o clube aceitaria, e o comandante voltaria 100% saudável. Então, por que esta parcimônia com o treinador em questão? Imagino se o caso e a campanha ruim fossem obra de Dunga, Luxemburgo ou Felipão, por exemplo, o zelo em não criticar o profissional pelo desempenho do time dentro de campo seria o mesmo.
Bom, volto ao assunto financeiro. O amigo defende que técnico tem de ganhar no máximo R$ 100 mil. “Eles ganham demais, os jogadores ganham muito!”, brada. Na hora, respondi que não os culpo. Se recebem uma bolada, tem alguém acima que lucra ainda mais em cima do
trabalho dos donos do espetáculo. Faz parte do jogo, do investimento, do espetáculo.
Além disso, em se tratando de grandes clubes ou seleções, a pressão em seu ambiente de trabalho é enorme e, muitas vezes, justifica o quanto recebe. Claro, difícil hoje é não trabalhar sob pressão. Mas, não tenho milhões de pessoas querendo meter o bedelho no que eu faço, e nem me xingando caso perca um gol ou escale alguém que não renda em campo, ou em uma quadra.
Acrescentei ainda, que, se quiserem reajustar seu salário em escala geométrica, você, candidamente vai recusar? “É muito dinheiro, não mereço ganhar tudo isso, é fora da realidade, prefiro ficar com o mesmo salário.” Como diria meu guri “pré-aborrescente”:
SQN ou, traduzindo, Só Que Não.
Sim, concordo que no mundo esportivo há valores um tanto inflacionados. Rende uma discussão para mais de metro. Bem como existe uma maioria jogada à margem das notícias ostentação. Se 90% dos atletas ditos profissionais deste Brasil varonil ganham hoje quatro salários mínimos, e em dia, passarei a acreditar em duendes.
Isto, para mim, é bem mais importante sobre os ranking dos mais bem pagos divulgados a rodo.

Boa semana a todos.

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